terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fogão de lenha... um dedim de prosa ... A vida não vai pra onde você quer...


Saindo cedo pra estudar... são ainda 6:30 da manhã, e a casa de meu avô era caminho da escola, logo ficava impossível passar em frente a casa e não entrar... era uma segunda feira de sol ardente como já se sabe, que é por aqui. sertão baiano, mesmo cedinho já se sente aquela sensação do calor chegando...

No fogão de lenha, minha vó Ana fazendo café... que ela mesma plantara , colhera, depois torrava / pisava, e preparava um café digno dos deuses....




Essa função pra ela era sua tarefa intransferível, e, ai de quem a tirasse...

O cheiro ao redor fazia com que tudo tivesse uma atmosfera gostosa...

As frutas recem colhidas no pomar... as ervas ... as carnes de sol dependuradas lá no canto da cozinha, esperando que fossemos lá tirar um pedaço e fitrasse... 

Meu avô tinha a mania de dizer: " nuzim , mas gordim ". e dava sua risadinha sarcástica, como quem dizia... fome nóis num passa, podemos ser pobre, mas tem fartura na despensa.

Não havia quem chegasse, naquela casa simples, e não fosse à cozinha, sentar-se perto do fogão à lenha e bater um dedim de prosa. 



A forma como os objetos estavam arrumados ali, era um fator estratégico, e de uma disposição muito inteligente... a herança dos antepassados era  sempre registrada ali, de maneira única...

Olhando para lá - para o passado, parece que até o cheiro do local, nos chega as narinas... a sinestesia entre o passado e o presente existe sim.. que acreditem ou não, pessoas mantém na alma os aromas... alecrim , erva doce, erva cidreira... torresmo... terra molhada... xulé.

As formas dos utensílios... alguns feitos no fundo do quintal, as moringas , e canecas de alumínio, as paredes... os tijolos, e tudo o mais que era feito, para que o conjunto formasse um mundinho sem igual. 




Fogão de Lenha Padre Fábio de Melo
Espere minha mãe estou voltando
Que falta faz pra mim um beijo seu
O orvalho da manhã cobrindo as flores
E um raio de luar que era tão meu
O sonho de grandeza, ó mãe querida
Um dia separou você e eu
Queria tanto ser alguém na vida
Apenas sou mais um que se perdeu
Pegue a viola e a sanfona que eu tocava
Deixe um bule de café em cima do fogão
Fogão de lenha deixe a rede na varanda
Arrume tudo mãe querida, que seu filho vai voltar

Mãe eu lembro tanto a nossa casa
As coisas que falou quando eu saí
Lembro do meu pai que ficou triste
E nunca mais cantou depois que eu parti
Hoje eu já sei, ó mãe querida
Nas lições da vida eu aprendi
O que eu vim procurar aqui distante
Eu sempre tive tudo e tudo está aí 

As mulheres dali, passavam a visão simples e gostosa de suas descendências. 


Eram pessoas dentro de nós! 


Nos transmitiam força de caráter; e firmeza em seus princípios, eram mulheres que fiavam , teciam , costuravam , cozinhavam, rezavam , amavam , pariam , amamentavam seus rebentos... brigavam , faziam bejus, vendiam galinhas, rendas, bordavam anáguas , e, outras tantas coisas, que enchiam de vida o ambiente.

A vida por ali acontecia: de maneira transparente... sem algemas, sem teoremas, livre de estigmas ameaçadores, e coersivos. 


Apenas acontecia de maneira livre, podíamos nos expressar.. cantar ... infância na roça tinha cheiros variados... não de televisão, pois ali só tínhamos rádios... e, sabíamos as notícias através do único meio de comunicação possível .. além dos jornais , dos folhetins e cordeis.

Quem viajava sabia mais... e nos contava... os padres vinham e iam ... aqui e ali...

.. de cidades em cidades, meu avô ia com eles.... sertão adentro, campos , todos os cantos.

E, quando voltava passavam-nos as impressões de outras distantes... meu tio, estudava num seminário e, também era o anunciante das novas de fora dali... e sabia falar palavras numa língua desconhecida que só os padres entendiam.... depois soube que falavam em latim.

As professoras, eram quem mais se respeitava, depois das mães de leite, das parteiras e rezadeiras... as mestras - por que nos ensinava lições, e costumes, bons modos e coisas que nem nossas mães e avós haviam aprendido... 


E, eram respeitadas por isso... e nunca contestadas. Havia  a admiração e o modelo a seguir.

Assim, era nossa vida: Simples e saudável.  


Não precisávamos enfrentar trânsito , trens lotados, rushs, fugir de barulhos , trancar nossas casas, fazer seguros, colocar câmeras de proteção , e nem grades.. atender telefones toda hora... Nada disso!

As mulheres , os homens , os idosos , as crianças tinham tempo para a vida...e viviam mais... desconhecíamos: diabetes, arritmias cardíacas, hipertensão, AVC (derrames), e toda sorte (ou azar) de infortúnios e agressões aos quais estamos sujeitos hoje em dia...

Os hospitais só tinham internações de vez em quando, e quando surgiam epidemias...ou guerras.

Aprendíamos cedo a costurar, fazer tijelas de barros, tear , velas , essências, medicamentos...
unguentos ... e até nossas próprias bonecas fazíamos de restos de panos ... etc

Brincavámos na rua, sem medo de balas perdidas... olhando uns nos olhos dos outros, conhecendo as almas de cada um.

Porque ali mora a essência divina! 


Não precisávamos de teorias religiosas complexas, entendíamos do nosso modo... e, seguíamos vivendo apenas!

O espaço em nossa vida era só nosso, pois eramos autênticos e verdadeiros!!! 


Aprendíamos , que a vida não iria para onde sempre queríamos...ela seguia seu curso, e não era necessário lutar, nem brigar com ela... apenas compreendê-la...

                                                                          beijoss







Referências:

http://www.vagalume.com.br/fabio-de-melo/fogao-de-lenha.html#ixzz26qrplmUc


http://paneladebarroefogodelenha.blogspot.com.br/p/colecoes-de-foto-de-fogao-lenhas-de.html







4 comentários:

  1. Tudo de bom: fogão de lenha e as postagens da querida Alicinha!

    parabéns!

    bjs, sempre, do Joca!

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  2. Ouça a música do Vitor e Leo ...

    Um fogão a lenha - que delícia ; que vida boa...sapo caiu na lagoa... Uahsuahsuahs ....

    Obgdu pela leitura e comentário ... Besos

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    Respostas

    1. JOCA ........

      Por que será que a maioria das pessoas se esquecem de que a terra é um dos nossos elementos químicos, e se trancam em mundos artificiais... e shoppings centers ... e não cultuam o que de melhor teriam a desfrutar... ÊH bom demais ser caipira...

      kikiki... Eh pinga boa!!

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  3. Saudades da época que tínhamos fogão a lenha, um porão enorme na casa, Galinhas e plantação, ganhávamos leite em um balde do vizinho. Ir e voltar a pé da escola, quando chovia, pisava em todas poças que aparecia na frente, pena que hoje deixou de existir, mesmo no interior.
    Beijos, amada!!!!

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Obrigada pela presença, caso queira deixe seu comentário.

Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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Que lugar é esse ? One club of The chess... greast ...