Em geral, o dia de domingo, nem sempre é prazeroso... o pensamento já voltado para a segunda feira, faz com que nem curtamos o dia.
Poucas são as pessoas que sabem valorizar esse dia , e transformá-lo num domingão.
Ainda mais quando não se pode ve e muito menos ter - o bem amado: Como era gostoso o meu italianinho!!
Perdi-o pra a Itália o regazzo... Madomma mia da Caropita... Santa Gertrudes! Capictche ... Traga-o de volta.
*Pelo menos foi o que pensava naquela época!!!
Tola ilusão juvenil... o amor não é assim uma coisa tão simples de ser definida... ele tem nuances, caminhos tortuosos, e por vezes a vida nos deixa aérea ... absorta em uma paixão... que nunca a entenderemos... e só a compreenderemos após a morte!
Por que? A morte explica tudo... releva tudo ... Perdoa as falhas e os grilhões.
É a única coisa certa que temos conhecimento na vida.
O resto são abstrações do ego.
Um mês depois de trocas de afagos... e carícias juvenis:
O destino nos aprontou... o pai dele teve um AVE hemorrágico e entrou em coma, vindo a falecer , logo assim que o filho retornou à Itália... e, como filho mais velho, dentre as três irmãs, teve que ficar por lá, para tocar os negócios do pai.
Trocamos algumas cartas, perfumadas e cheias de promessas... mas a vida tinha que continuar sua roda... e o silêncio agora passados 4 meses , era tudo o que nos restava, mergulhado em doces lembranças!!!
Como dizia minha mãe, em suas frases de para-choque de caminhão: "Foi bom... enquanto durou"!
As matérias do Pré-Vestibular e o segundo grau (normal) juntas tomavam todo o nosso tempo, a fora os estágios do curso!!!
Era de 7:00 às 22:00 de correria e trabalhos e mais trabalhos a apresentar... Plano de aula... lembrancinhas do dia das mães...etc..
Ah... aos sábados depois das aulas do cursinho... tinha o afamado IBC- Iguaçu Basquete Clube, e a presença dos capivaras mal amados, como diz o Joaquim (paulista que caiu de para-quedas por essas bandas)...também de lá... Jogavámos xadrez... numa sala barulhenta . ao lado da quadra de basquete... em meio as arruaças dos atletas ao lado e seus fãs.
Conosco Não: Era o silêncio quem predominava... caras sérias ... planos arquitetados com o máximo absoluto rigor enxadrístico:
Coisa de maluco... só louco para perder tanto tempo (já cheguei a levar 8 hs) numa partida de xadrez com suas interrupções, e recomeço...E o pior amava aquilo.
Meus amigos, de fora dali ficavam perplexos: Ritinha falava:Você vai ficar "tantan"..."louca de pedra" ... kikikikikii , e todos riam de mim...
Enquanto, via as minhas amigas contarem como havia sido seus finais de semana ... calorosos com seus cara pálidas: Rita e David ... Shirley e Romeu ... Elizeth e Jaime, Sandra e Francisco ... Meire e esqueci..., cada semana, ela chegava com um nome novo! e era impossível sabermos quem seria o próximo ficante da guria.
Uma mulata, de ancas fartas , embora magrinha... que era o frisson dos trocadores da Empresa de onibus: Belford-Roxo/Nova Iguaçu, da Continental. E, nem pagava passagem... pois já tinha agarrado todos de motorista a cobradores.
Enfim... enquanto eu afogava a saudade, do italiano, no xadrez e, nos livros de Física e Matemática... nas apostilas , e ficava atrás do meu professor e colega de jogo : Dilson Araujo, aos domingos lá no IBC. enquanto isso -as moçoilas, iam à praia e ao zoológico... pois eram os únicos passeios que os pais deixavam-nas ir e, compravam paninhos de prato para bordarem para o enxoval!.
Faziam excursão domésticas.... marcavam piqueniques na Quinta da Boa Vista aos domingos... faziam empadões etc... para saciar a fome,e , mostrar aos mal amados , que eram exímias cozinheiras de forno e fogão... eu, jogava ... jogava ... e estudava!
Tudo bem que de todo não era mal. Era até meio divertido.
Tinha também uns romances embutidos dentre um tabuleiro e outro ... mas como "o que não tem que ser ... não será"... os torneios e as viagens alhures e algures eram o que de melhor acontecia na época.
Mas ... lá em casa os domingos tinham gosto de rosbife com arroz de forno... e aos sábados era dia de faxina geral porque as cunhadas da minha mãe, do seu primeiro marido (três) grãs-finas, mais uma agregada , viriam passar um dia na roça!
E, claro minha mãe que tinha verdadeiro frisson. ante a presença das amigas...ficava toda vexada: Joanita ... faz isso ... Cristina ... faz aquilo ... e vocês se comportem na presença de Alba... nada de arrotos na mesa, referindo-se ao meu primo Geraldo - o mau educado em pessoa! e, que além do mais adorava encher a paciência da tia...
Ah!quer dizer se der vontade de arrotar , faz como ?
kikikii... e começava a discussão, à respeito dos arrotos ... mas o Luiz pode peidar à vontade que ninguém fala nada, dizia ele, como se a desculpa fosse verdadeira:
Você não vai querer comparar uma coisa com outra?!.
Dizia minha mãe já enraidecida: Uma coisa é uma coisa!
E.. o blá ... blá ... blá perdurava por longas horas, sem que um convencesse o outro que peidar e arrotar podem ser controlados?!
Joanita e Cristina, na cozinha tomavam seus partidos baixinhos:
Mas, Dina tem que ficar batendo boca... (enquanto limpavam as pratarias para o tal almoço com as senhoras refinadas da corte portuguesa...) com Geraldo... e tia Rosalina (irmã de minha mãe) prontamente se colocava a favor de seu filho estimado... ao que meu avô retruncava: A educação faz um povo!! .
Nesse momento chegava a dona Maria : outra cunhada de minha mãe, casada com tio Carlitos ( um bem humorado moreno alto) de largo sorriso e que gostava de puxar uma moda de viola.
Mas que casara-se , segundo minha mãe com a pior das mulheres da Paratinga, e olha, que minha mãe veio para o Rio de janeiro , e o trouxera, para afastá-los... mas, segundo consta... a moça veio também , e trabalhou ... para juntar dinheiro para viverem aqui... no Rio de Janeiro, longe de tudo e de todos... de maneira tais que quando minha mãe o trouxe, eles já tinham todo o plano arquitetado, e a fizeram de idiota!!
Resmungava ela... e, os dois engataram um romance vindo a nascer uma menina.... o que nunca a fez aceitar o fato... e as duas viviam jogando essas coisas do passado uma na cara da outra, o que era extremamente desconfortável... e nos fazia sair de fininho quando começam o assunto.
Não tínhamos como tomar partido desse ou daquele lado: Foi anterior a nossa existência.
Só pedíamos que parassem... mas quando a discussão fervia , nem meu tio participava... saindo pra tocar seu violão... o que era acompanhado por nós... que cantarolávamos as modinhas mais tocadas na Rádio Tupi!!
Acompanhadas de Yolanda uma amiga antiga... de infância de minha mãe.... que tinha uma voz rouca e bem tonada.
Mas, nesse domingo... era especial.. e não era para ter outras visitas... o que fez minha mãe torcer a cara quando chegou a cunhada com seus três filhos bem na hora do almoço.
E, o pior sem avisar, ou trazer nada (cinco bocas).
Eles podiam pelo menos avisar que vinham... e ... blá ... blá... blá...
Mas o problema era que às minhas "tias" - não podiam presenciar a gulodice dos sobrinhos e, os narizes cheios de meleca, que escorriam à mesa ... o que eles limpava na manga da camisa, sem que alguém os retrucasse, ou pior: jogassem, os ossos de galinha ao lado do prato, em cima das toalhas de puro linho linho irlandês do Gunther.
Absurdo , essa educação que Maria dá aos filhos, dizia Joanita... achando aquilo um terror: Alicinha, nunca se comportou assim!
Lembro-me que uma vez minha mãe tirou as crianças da mesa da sala e os fez comer na cozinha, porque os lugares eram para as cunhadas e uma tia maranhense Zélia, também cunhada casada com o irmão das tias.
Enxotou-os para a cozinha... o que me fez ir também por solidariedade aos primos mau educados.... fomos comer na mesa da cozinha. sem problema- por que o melhor lugar da casa , era mesmo na cozinha... perto do fogão ... absorvendo os cheiros de temperos e provando aqui e ali uma ou outra coisinha que saia...
Na Bahia, como em outras cidades do interior, bem lembrou * Rubem Alves- as casas não eram trancadas ... tinham um barbante pendurado do lado de fora, o que permitia com que as visitas mais chegadas entrasse, e fossem direto para a cozinha, sem precisar pedir licença... era só avisar : Ô de casa ? e ouvir um : Entra ... comadre ... pode chegar... e ai tinha sempre uma carne de sol tostadinha na chapa do fogão de lenha, na qual podia-se tirar um pedaço e comer com beju ,ou cuscus de milho , saboreando o café que fora torrado cedo... dizia-se que torrar o café de madrugada... era mais absorvido o gosto... porque os espíritos estavam dormindo e não atrapalhavam o trabalho dos vivos! Cruz credo... se fala cada coisa... pelo que sim... pelo que não todos respeitavam a lenda... e a noite podia-se sentir nas casas o barulho dos moedores de café e o aroma que a erva adquirira sem interferências de ninguém, além de quem tinha essa missão.
Na casa do meu avô, na Bahia - era minha bisavó Ana , quem fazia esse serviço... Ela uma miudinha goiana mãe de minha avó ... que era surda e muda... mas a pessoas mais angelical que meus olhos já viram por toda minha vida, vó Ana e tia Rosalina, desempenhavam esse serviço , sem reclamação, nem pedir ajuda a ninguém...e , na minha casa (paroquial) do outro lado da Praça Xv de Novembro... o serviço de moer e torrar o café ficava por conta da Nita, o que a fazia ir para cama bem tarde.
Mas voltando ao tal almoço de domingo... era uma situação constrangedora.
Minha mãe querendo manter os costumes aristocráticos das cunhadas... por outro lado os sobrinhos e a mãe dos mesmos mostrando o lado negro da família, meu tio coitado sem graça dividido entre um e outro mundo... eu e minhas primas maiores sem saber que atitudes tomar ... torcendo para que o dia terminasse logo...e a paz voltasse a reinar no ambiente...e que o dia terminasse feliz.
Moedor de café
Esse objeto era muito comum nas cozinhas do interior.
As casas, na parte de trás , em geral tinham esse aspecto. Dependendo de quem morava nelas, em geral, eram bem simples, mas muito asseadas.
Recordando aqueles momentos na Bahia.... me afloram inúmeras cenas... cenas simples do cotidiano.
Uma vida calma... em que nos preocupávamos apenas como iriam as rosas desabrocharem nos pés.., ou nossas porquinhas iriam ter seus filhotes, ou as galinhas colocarem seus ovos, sem que nenhum animal viesse para perturbá-las.
Ou se a plantação iria vingar... ou quando seria a próxima festa junina...
Não tínhamos preocupações, e confiávamos, que Deus se encarregaria de nossos problemas...
E Santo Antonio - providenciaria um homem bom ... honesto e trabalhador... para nossa companhia e velhice.
Aprendia-se bordar com as avós... cuidar da terra ... das flores ... moer café ... tecer ... fazer parto das éguas ... curar os machucados e as feridas dos nosso animais... tirar leite de vaca ... galopar cavalos ... e namorar livres ... nos campos e pradarias...
Quanto ao futuro:"o futuro a Deus pertence".!!!
Referência * Se eu pudesse viver minha vida novamente...
Autor:Rubem Alves
Ed. VERUS
Campinas/S.Paulo
verus@veruseditora.com.br
Alicinha,
ResponderExcluirGuarde seu italianinho só pra você....sem graça!
É sim, tem "uma paixão mal resolvida" sim...
ResponderExcluirVocê deveria resolvê-la ao invés de sempre se referir a ela.
Sem graça 2.
Fatos ocorridos há mais de 30 anos!
ResponderExcluirImagina se me preocuparia com a influência deles hoje na vida de quem eu amasse! ainda mais que ela ( a pessoa), ainda nem existia no meu círculo e na roda da minha vida!!!
Seria como me importar com ex-esposa, ou com os filhos que o outro tivesse... ou seus familiares da outra parte!
Importar-me eu?
Claro que não.
O objetivo desse blog é apenas recordar para que não se perca, e um dia talvez publicaria um livro.
Foi o que planejava, mas vejo que é melhor apenas escrevê-lo, e não publicar... postar apenas receitas de pavês... e bordados de pontos de cruz... ou coisas do tipo.
Guarde em si , o que é seu!! Mantenha o silêncio sobre seu Ego.. suas intimidades. Você nunca será uma Clarice. Leia-a e conforme-se com suas poesias e histórias ... Aos vencedores : O sucesso... aos fracos: A insignificância de sempre!
Revele-se apenas a si mesmo!! daqui para a frente. O mundo não compreende quem tem sensibilidade aflorada.
Adeus : Blog querido.
Quem sabe conseguirei eu um dia abrir-te novamente.
Alice Baruch (abençoada a que diz a verdade).
Assim é o meu nome. assim é a minha história