O meu pé de tamarindo
Agora não
havia mais solução alguma, a decisão fora tomada... A mudança estava embalada e
o caminhão na porta... os caras entravam e saiam da minha casa... carregando
tudo.
Num canto da
sala eu, Luiz, Joanita e Cristina abraçados,
estávamos mudos... Já não haviam mais
lágrimas, porque gastáramos todo o cartucho na noite anterior... caminhando
pela casa... pelo quintal despedindo-nos de tudo.
Lembrei-me, que faltava me despedir do meu pé
da tamarindo...
Digo meu
porque quando gostamos de algo, o sentimento de posse , se apodera da nossa
mente...e, aquilo passa a ser nosso.
Embora eu não
o tenha plantado... me apossara dele... quantas casinhas em seus galhos construímos... quantas redes em seus ramos, quase chegando ao chão
... quantos piqueniques em baixo de sua sombra..e até no dia em que quase uma
cobra me mordia, mesmo assim no outro dia, lá estava eu lá, embaixo da árvore ,
conversando com ele... Sim!
Quando não
temos com quem conversar , abraçamos uma
árvore e confidenciamos nossa dor... embora
, ainda não tivesse muita coisa a confessar, nem havia sofrido as dores do
mundo... nesse dia, eu tinha uma dor forte dentro de mim...
Ainda não
sabia medir a intensidade dela, embora, confesso entre nós bem baixinho, não
aprendi ainda, a fazer isso.
Talvez seja
por que a matemática não era, e nunca foi, a minha matéria favorita... estudava-a
para passar somente... e certamente se
mal a sabia, muito menos iria conseguir trabalhar a análise combinatória ou a
analítica. Ahh – mas meus sentimentos eram reais, havia a dor...
E, quando se
sente dor – dói tudo, dentro de nós. O peito é o primeiro a doer... depois o
estômago, o fígado , enfim tudo o que pulsa dói... até respirar dói.
Minha tia
contava que a Leonor, uma afilhada sua, foi abandonada de véu e grinalda, na
porta da Igreja pelo José de Ribamar – moço que trabalhava nas obras da
estrada, já a bem mais de 2 anos, e morava na pensão, onde a pobrezinha
trabalhava... pois nesse ínterim, de
morar lá, almoçar e jantar , etc... iludiu a moça, e creu... dá pra imaginar o que sucedeu-se... pois bem , seu pai foi tirar satisfação com o tal
homem da estrada, e ele muito cínico resolveu que casaria, mas alguém avisou
pra esposa dele, lá em São Luis do Maranhão que veio com os 5 filhos, até a
minha cidade... e ficou espreitando ele, do alto da escada da igreja, quando
ele a viu, montou num cavalo, o primeiro que viu amarrado, e desapareceu... e,
deste dia em diante, ninguém ouviu falar mais dele , e, quanto a Lindinalva Leonor...
que estava grávida de 4 meses... só foi
ter o filho, morrendo de parto, na mesma hora... deixando a criança órfã de pai de mãe...
Aos cuidados
dos avós , que inconformados, ainda esperam encontrar o
tal camarada, e lhe fazer pagar o prejuízo que fez em sua única filha-mulher.
Essa história
servia , apenas para ensinar... que
tristeza mata!
E de morte
feia...lenta , desregrada ... dependendo
de qual seja a dor.
A história
servia para exemplo de todas nós, e era contada, desde a escola, igrejas
católicas e protestante, rodas de fumo e de cachaça...etc.
Tinha gente
que inventava outras pra confirmava... e dizia: moça que não se honra, tristeza
e desarmonia aos seus dias ela soma.
Mas como
deixar que a tristeza não nos invadíssemos? Olhei alguns minutos para o pé de
tamarindo, e percebi que do seu tronco rolava uma seiva fina, que toquei e pus
na boca conseguindo achar que era salgada!!!
Nessa hora do
seu galho mais alto, desprendeu-se um fruto do tamarindo, quase de vez... peguei -o e pus dentro do bolso da bermuda...
embrulhado num lenço que minha madrinha Nina me dera... a outra madrinha me deu
uma boneca... o padre Vítor um livro (cristão) sobre o sofrimento de Jesus
E mais alguns
presentinhos e desenhos de meus colegas de turma que nada tinham a dar... a não
ser um abraço, e um chorar de junto.
Soneide, era minha melhor amiga... essa não conseguiu vir, seu irmão que estava
lá na porta do casarão, veio dar um abraço a meu irmão e a Joanita, e disse na
última hora que era apaixonado por ela... mas ainda era um estudante de oitava
série, e tinha apenas 16 anos, por isso nunca se atreveu dizer-lhe antes.
Me entregou a carta perfumada que sua irmã
pedira, e a Joanita um lenço que trazia
em seu bolso também perfumado de Lancaster.
A Cristina abraçada ao seu namorado,
prometia-lhe fidelidade, e que se encontrariam em breve... e, se ela não
conseguisse nada pelo Rio de janeiro, estaria de volta no fim do outro ano.
O restante já citei em postagem mais antiga.
Abracei o tronco da árvore que
generoso me acolheu... desprendendo um doce cheiro da fruta, que ainda meninas, balançavam-se nos raminhos... como a me dizer adeus!!!
Sobre a árvore
O tamarineiro tem sido utilizado com finalidades alimentícias,
medicinais e industriais. É usada na Índia, como árvore de sombra,
na ornamentação de parques, jardins e avenidas. A casca tem propriedades
adstringentes, tônicas e antitérmicas; em decocção é usada em casos de
gengivites, asma e inflamação dos olhos; loção e cataplasmas da casca da árvore
são aplicadas na cicatrização de feridas. Acredita-se que a infusão de raízes
tem valor curativo em doenças torácicas e é um ingrediente nas prescrições
contra a lepra.
As
folhas e as flores jovens são comestíveis. Tem agradável sabor e são empregadas
em saladas, sopas e condimentos. As flores são melíferas. As folhas possuem
vários usos medicamentosos; na forma de loção e extratos são usadas como
diuréticos; no tratamento de conjuntivite, como anti-sépticos, analgésicos,
vermífugos, e nos tratamentos de disenteria, icterícia e hemorróidas. As cinzas
das cascas das vagens são usadas com substâncias alcalinas em fórmulas
medicinais e contra indigestão e cólicas.
Com a polpa pode-se fazer doces, refrescos, xaropes, sorvetes, licores, geléias,
etc. É também utilizada como ingredientes em condimentos e molhos. Podemos
citar vários usos medicinais da polpa do tamarineiro, tais como: antifebril,
laxativo, carminativo, digestivo, colagogo, antiescorbútico. Na "medicina
popular", a polpa é utilizada contra inflamação na forma de gargarejo para
afecções da garganta e, misturada com sal é usada como linimento para
reumatismo; é também administrada para aliviar insolação e intoxicação
alcóolica. Também é usada como um fixador com açafroa ou urucum em corantes e
serve para coagular o látex da borracha. Ainda, misturada com água do mar,
limpa cobre, prata e latão. Alguns pesquisadores propuseram a utilização da
polpa do tamarindo para a produção industrial de ácido tartárico, pectina e
álcool.
As sementes de tamarindo cozidas ou fritas após a remoção do tegumento,
são utilizadas como alimento pela população pobre da Índia. As proteínas da
semente são de alto valor biológico, comparável com as proteínas de vários
outros cereais.
Os polissacarídios presentes nas sementes têm várias aplicações
industriais tais como, melhoramento da textura de geléia, estabilização de
sorvetes, maioneses e queijos; ingrediente ou agente ativo de vários produtos
farmacêuticos (cosméticos, emulcificantes de óleos essenciais, desidratante na
fabricação de produtos em pó) e plásticos. Na Índia, 3 mil toneladas são
utilizadas anualmente na indústria de juta e algodão para engomamento dos fios, em substituição ao amido de milho de
forma mais eficiente e mais econômica.
De acordo com a medicina Yunani, as sementes são adstringentes,
afrodisíacas e anti-helmínticas. O tegumento das sementes é usado contra a
diarréia crônica. Apesar de ser a mais ácida das frutas, o tamarindo também é a
mais doce delas.
Apareça outras vezes ... para outras prosas.
Tenha um Boa noite.
Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente. Henfil
Besosss...
Aos que moram em outras partes, e se fazem aqui... matando a saudade das coisas da nossa terra!! e dessa pátria que sempre nos acolherá.... Muito Obrigadu!!!.
http://www.frutiferas.com.br/htm/tamarindo.htm
http://www.bemsul.com/sc/blumenau/2011-morre-arvore-do-tamarindo-em-blumenau/
Alicinha, sei como dói partir, principalmente quando fincamos raízes profundas em cada lugar.
ResponderExcluirFoi assim minha vida inteira. Fomos ficando um pouquinho aqui, outro pouquinho ali, e foi uma infância inteira com minha família mudando de cidade em cidade.
Relembro que, quando começávamos a fazer nossas amizades, tava na hora de partir.
E essa coisa de romper laços emocionais era mais doído nos primeiro filhos, que sentiam bem mais, pois os vínculos eram maiores.
As duas irmãs mais velhas, que já namoravam, ficavam desesperadas quando o telegrama do correio chegada comunicando uma nova partida.
Até meus 12 anos, já havíamos vivido em cinco municípios diferentes, até que finalmente chegamos na capital do RN, no final do ano de 1971.
Já crescido, parece que peguei gosto e comecei a percorrer outras cidades. Assim morei em Guaratinguetá, Recife e São José dos Campos.
Meu irmão João escreveu um livro com o registro de nossas memórias (dos nove irmãos).
Dá gosto de ler o que cada um recordava de cada casa, principalmente a de número 50, essa foi a que marcou mais.
As lembranças gostosas vividas em torno de um querido tamarineiro também são inesquecíveis.
Como bem você reportou, a gostosa sombra, as rodas de conversas, o pendurar das redes, enfim, tantas memórias ficaram penduradas nas paredes do tempo.
Que gostoso é recordar!
Parabéns pelo belo texto, Alicinha.
Seu amigo, José Maria Cavalcanti
visite o meu cantinho:
www.bollog.com.br
ResponderExcluirJosé ...
O bom é que com o tempo, aprendemos a recordar somente...sem tristezas... hoje alcançamos esse limiar...e fica mais fácil escrever sobre tudo isso!
Embora o coração desacelere um pouco, a respiração se torne mais lenta...e sei que, se olharmos nossa face no espelho ela refletirá uma gota de saudade que ficou no arquivo, e que, certamente doerá um pouco! Normal...
E esqueci de falar, que a fruta do tamarino - é uma delícia..
Ahhh quem já provou nunca esqueceu!!
Obrigada pela leitura e comentário.. Abçss...
Como é bom ler suas aventuras de alegria ou de tristezas, s palavras que tu utilizas para descrever seus contos e saber que elas fazem parte de você. Eu nunca tinha visto um pé de tamarindo, conheci só o suco que tomei em Cuiabá, achei delicioso. Uma árvore linda!!
ResponderExcluirBeijos, amada!!!