Beth - estou precisando fazer um vestido, porque tenho um aniversário de 15 anos para ir, você conhece uma costureira aqui no bairro?
Perguntei a minha colega de sala.
Claro que sim!! Respondeu ela de pronto - a minha mãe! Poxa, sua mãe costura?? Sim .... e muito bem por sinal...
Quando é a festa? É daqui há 15 dias... Xii muito pouco tempo, não sei se ela vai poder??
Porque perguntei-lhe:É que, ela só pega costura com uma certa antecedência, assim com pouco tempo, num sei se vai dar.
Por ai já pude perceber, que a mãe da minha colega, deveria cozer bem de fato...
Porque, ainda faltava para mim, duas semanas... e ela já dizia que era muito pouco tempo.
Mas mesmo assim, me chamou para ir com ela à sua casa, e perguntar a mãe se daria, desde que o vestido não tivesse muitos detalhes... disse que não, claro, porque nem sabia de que jeito eu iria quere-lo, só sabia que dispunha de 30,00 cruzeiros novos, e ainda teria que comprar o corte de tecido, mas precisava saber as medidas certas... porque minha mãe, embora costurasse, não estava a fim de colaborar dessa vez, e preferiu liberar o dinheiro, que não era lá grande coisa... mas que era tudo o que dispunha...
Acabada a aula, fui até a casa da minha colega, para ver se seria possível a empreitada de fazer um vestido em tão pouco tempo, segundo seus cálculos, e com tão pouquinho din-din na mão...
A mãe da garota, era uma mulher com traços bonitos ainda, mas percebi pela expressão de seu rosto, e pelo olhar, o quanto deveria batalhar pelo ganha- pão diário, dela, e de seus quatro filhos, por que pelo que pude perceber ela era o chefe daquela família, embora havia uma presença masculina por perto.
Cumprimentei-o, e entrei atrás da minha colega...indo até os fundos da casa, aonde havia um quartinho, meio escuro, mas com mesa de trabalho, duas máquinas.... e muitos pedaços de tecidos aqui e ali espalhados...porque não sei se é regra geral, as costureiras, só sabem trabalhar com muitas coisas espalhadas ao redor, vi cortes de tecidos, botões em vários vidrinhos, fecho-ecler , carreteis de linha, de todas as cores... revistas, e papel pardo amontoado, juntamente com fitas métricas, e umas tesouras.. vi também fixado na parede amarelada, jornais com fotografias de artistas, e seus modelos de festas...
A mãe dela, segundo me informou, antes de casar, costurava para algumas mulheres da alta-sociedade, quando morava com sua madrinha, no bairro do Riachuelo, zona Norte do Rj.
A madrinha também era costureira, e dona Glorinha, após ter perdido, ainda na infância sua mãe, foi levada pelo pai para essa tia-madrinha, e viveu com ela alguns anos... enquanto seus outros irmãos, eram colocados também em casa de parentes.
Foi lá que ela ajudando a tia, foi aprendendo a arte da costura, do bordado, do crochê etc...
E, fora o que a salvara de passar fome, porque uns três anos após ter se casado com aquele que era o pai da minha amiga, esse parou de trabalhar, e vivia de boêmia, pelo Arcos da Lapa carioca, chegando em casa, sempre ao amanhecer do dia, agredindo a mulher e os filhos, e sem trazer nada para casa, isso quando voltava, porque muitas, ele nem chegava em casa, dias e dias...
Sua tia, detestava o cara, que a sobrinha apresentou para namorado, mas a menina não quis ouvir os conselhos, e acelerou a saída da casa, antes da maior idade completa, se enfiando na baixada com ele, morando nos fundos da casa de seus pais... e vivendo as maiores dificuldades, quando começaram a chegar os bebês, de ano em ano!
A essa altura da vida, ela deveria ter volta de uns 40anos... olhar distante quando olhava as revistas, e se lembrava que em dias de glamour , ia com a tia a Rádio Nacional, para tirar as medidas das cantoras da rádio como Emilinha, Marlene, Virgina Lane etc...e costumava assistir aos programas de rádio sempre que podiam, por que a tia era apaixonada por um certo cantor da época, e segundo consta tivera um affair, com o moço, cujo nome se me lembrar falo mais tarde...
Mas, num dia desses, a menina-moça, vislumbrou aquele que seria com quem formaria uma família, ele era funcionário da rádio, sei lá o que fazia por lá, e de paquera em paquera, arrastou a menina para seus aposentos, e deu-se...
Resultado, a menina fugiu com esse moço, para o que pensara estar fazendo uma grande jogada, mas qual não foi a sua realidade ao tornar-se adulta, antes da hora! dissabores e dificuldades...
Bem, isso fiquei sabendo aos poucos... à medida que ia lá experimentar o vestido, que era azul escuro, tipo coco ralado, um tecido bem caro, que a mãe fizera sobrar de uma cliente, para uma de suas filhas, mas a menina não gostou, e a mais velha, minha colega era alta demais, também não lhe cabendo o tamanho, assim, quando vi o corte do tecido pouco mais de um metro, me apaixonei, e estava já cortado, o que foi rápido para terminar, pois era um tubinho reto, de alcinhas da mesma cor, e ela para dar-lhe mais um ar de graça, colocou uma renda branca na barra, o que fez com que se tornasse um must, na festa, todos perguntavam, aonde eu havia adquirido, e eu dizia:
Minha tia que veio da Alemanha, e me trouxe já pronto!! Uahsuahushau ...
Hum... respondiam todos: Deve ter sido uma nota!!..
Ah sim... minha mãe é que sabe o preço que estava na etiqueta... nem sei quanto foi!!
Hoje in off - posso falar que ela só me cobrou $10,00, e ainda deu para eu comprar um sapato novo preto de verniz, que estava paquerando!!.
Tudo dera certo.... e tornei-me a melhor amiga dessa gente, por até hoje!!!
A mãezinha já se foi, mas sempre vejo essa amiga!!!. É que costumo, manter as amizades por muitos anos!!
Essa sou eu.