Quando o sono é prejudicado pela Internet, a hora da refeição é quando mais se fala... a hora do banho (é dificel de se fazer o que é preciso), por que tenho tempo para jogar, preciso bater o novo record do meu amigo!!
Quero saber o resultado do G4.
Qual o tempo (previsão) amanhã?!
Chegaram novos cupons de desconto??
Algum convite para agito de fim de semana!?
Não terminei de baixar aquele vídeo massa da minha banda preferida,
Como foi a noite do rock rio?
E assim, há sempre uma desculpa para não estarmos plugados; e haja grupo novo a dentro; não podemos ficar nem um dia sem ela! A Internet.
Na madrugada o aviso: Olha a mensagem toca, e logo acordamos e vamos ver quem é!!!
Mães esquecem de colocar os filhos para estudar... por que elas também estão atualizando o bate papo, com as amigas... os pais interessados na compra do ingresso do futebol de domingo, e a Internet caiu justamente quando ia concretizar a compra.
Pagar contas só pelo celular... saber saldo ... e sei lá mais quantas coisas pode-se fazer.
Agora mesmo enquanto escrevo chegaram três mensagens.
E o que as pesquisas dizem disso tudo?
Os cientistas alertaram para os problemas, mas o pior de tudo: não se divulgam, e pouquissimas pessoas se interessam em saber:
Acompanhe esse texto:
"Este trabalho acadêmico complementa os inúmeros artigos e livros que escrevi sobre meios eletrônicos e educação, pois neles eu fiz referência a poucas pesquisas científicas, e nenhuma das mais recentes . No entanto, aqueles artigos contêm considerações conceituais que são apenas levemente cobertas neste trabalho. Assim, eles complementam-se mutuamente. Baseado no presente artigo, que engloba todos os meios eletrônicos, escrevi outro, apenas sobre os efeitos negativos da televisão, "A TV antieducativa".
No entanto, esse último contém dados de várias pesquisas não citadas no presente artigo, de modo que o complementa em vários pontos, como por exemplo o fato de, devido à TV, crianças estarem falando cada vez menos.
Alguns leitores podem estranhar o fato de eu abordar aqui praticamente apenas efeitos negativos dos meios eletrônicos. De fato, não há nada de 100% bom ou 100% mau no mundo.
Uma pessoa em uma de minhas palestras disse o seguinte: "Meu filho aprendeu inglês jogando video games, isso não é bom?" Claro que é, só que, em face dos enormes prejuízos causados por esses jogos, a minha resposta foi: "Mas não há outros meios mais sadios de se aprender inglês?" Como veremos aqui, os efeitos negativos daqueles meios são tão extensos e profundos, que posso fazer com segurança a seguinte afirmativa: os prejuízos causados em crianças e adolescentes pelos meios eletrônicos ultrapassam infinitamente os benefícios. No caso de adultos, devido à maturidade, conhecimento,autoconsciência e autocontrole que eles têm (ou deveriam ter), os prejuízos poderiam ser evitados. Mas, como a TV mostrou, e a Internet está mostrando, mesmo com adultos talvez minha afirmativa seja válida. Acontece que quase todas as pessoas que discutem os meios eletrônicos os elogiam, num verdadeiro entusiasmo pelas novas tecnologias.
Alguém deveria chamar a atenção para o lado negativo; é nesse nicho que entrei, com a esperança de conscientizar as pessoas para os enormes males causados por eles; dou grande ênfase às consequências dos usos dos aparelhos por crianças e adolescentes, que estão literalmente sendo destruídos física e psicologicamente por eles.
Ninguém duvida hoje que estamos destruindo a natureza; mas pouquíssimos percebem que há em curso uma verdadeira destruição dos seres humanos. Uma das maneiras mais seguras de destruir a humanidade é destruir as crianças e os adolescentes. Como veremos aqui, isto está em franco desenvolvimento.
Espero que continuem sendo meus "observatórios" para que, juntos, mantenhamos este artigo atualizado com as mais relevantes e recentes pesquisas mostrando os efeitos negativos dos meios eletrônicos em crianças e adolescentes.
Conclamo meus outros leitores a fazerem parte desta rede que visa conscientizar as pessoas dos perigos apresentados por esses meios e, principalmente, levá-las a proteger crianças e adolescentes, bem como educá-los corretamente, também enviando referências e artigos sobre pesquisas recentes .
Excesso de peso e obesidade
Esses problemas, sabidamente, estão tornando-se epidêmicos. Marshall (2004) estimou que nos EUA morrem cerca de 400.000 pessoas por ano como consequência de excesso de peso. Hancox, Milne e Poulton (2004), em um estudo com 980 crianças acompanhando seu desenvolvimento de 2 (ou 3) em 2 (ou 3) anos até 21 anos de idade, verificaram que 17% dos casos de excesso de peso eram devidos ao consumo de TV na infância.
Eles constataram que, quanto mais uma criança ou adolescente (isto é, entre 5 e 15 anos) veem TV, maior será seu IMC (Índice de Massa Corporal, de BMI, Body Mass Index, indicador de normalidade ou anormalidade de peso em relação à altura; ele é calculado como o peso em kg dividido pela altura em m ao quadrado) na idade adulta (ver sua descrição e gráfico de normalidade na Wikipedia).
Note-se que não se trata de estudo de médias, mas das consequências individuais em cada sujeito, produzindo posteriormente a média. Klesges, Shelton e Klesges (1993) constataram que uma pessoa, ao ver TV, gasta menos energia do que uma pessoa deitada sem dormir.
No entanto, o efeito geral, como determinado por Hancox e colaboradores, não deve ser apenas de menos gasto de energia por haver menos movimento, o que se aplica a todos os meios eletrônicos, mas, no caso da TV, uma diminuição da atividade mental e, ainda, na indução de maus hábitos alimentares.
Usando os resultados de Hancox e de Marshall, Spitzer, calcula que nos EUA no mínimo 68.000 pessoas (17% de 400.000) morrem por ano como consequência de excesso de peso devido à influência da TV.
Segundo seus cálculos, lá morrem 3 vezes mais pessoas como consequência do uso de TV do que em acidentes de trânsito .
Linda S. Pagani e colaboradores fizeram um extenso e rigoroso estudo para verificar a influência de ver TV na primeira infância sobre rendimento escolar, e fatores psicossociais e características de vida (Pagani 2010). Vamos tratar aqui apenas do problema do peso, retornando ao seu trabalho em outros itens quanto aos outros fatores. O estudo foi feito com 1.314 crianças de Quebec, Canadá.
Segundo os autores, "Um incremento [de uma hora] de ver TV na idade de 29 meses correspondeu a 5% de aumento de probabilidade de a criança ser classificada como tendo sobrepeso na idade da 4ª série (10 anos).
Exposição precoce à TV [o mesmo incremento] também correspondeu a 16% menos probabilidade de ingestão de frutas e vegetais e 9% a 10% de maior consumo de refrigerantes e snacks [salgadinhos e docinhos], respectivamente."
Wiecha, Peterson e Ludwig examinaram 548 alunos, com média de 11,7 anos de idade, praticamente com mesma distribuição por sexo, de 5 escolas públicas perto de Boston, em 1995 e em 1997, levantando hábitos alimentares, atividade física e tempo de ver TV .
Foram feitas medidas de ingestão de alimentos anunciados regularmente na TV, divididos em 6 grupos: doces, balas e chocolates, batatas fritas, fast food, salgadinhos e bebidas adoçadas com açúcar .
Como resultado, cada hora de aumento de ver TV foi associada com em média 167 kcal adicionais de ingestão desses alimentos por dia . Segundo os autores, "Nossa análise leva a uma ligação entre assistir TV e essas mudanças não-saudáveis de hábitos alimentares [dietary changes], sugerindo que a propaganda de alimentos na TV tem uma poderosa influência no que é comido.
De fato, estudos mostram que ver TV está inversamente associado com a ingestão de frutas e verduras, que recebem pouco tempo de transmissão, apesar de seu potencial para promover a saúde de vários modos, e de proteger contra ganho de peso [eles citam trabalhos sobre esses fatores]. ... se bem que crianças e adolescentes são encorajados a prestarem atenção [watch] ao que comem, muitos jovens parecem comer o que eles prestam atenção [watch, isto é, veem na TV], e no processo aumentam o risco de aumentar a ingestão de energia. Na falta de regulamentações restringindo a propaganda de alimentos dirigida a crianças, a redução no tempo de assistir TV é um enfoque promissor para reduzir a ingestão de energia." .
Eles concluem: "O aumento no uso de TV está associado com aumento na ingestão de calorias entre jovens. Essa associação é feita por meio do aumento de alimentos densamente calóricos e de baixo valor nutritivo, frequentemente anunciados na TV."
Spitzer chama a atenção para o fato óbvio de que a propaganda de alimentos sem valor nutritivo nunca é feita por pessoas gordas ou com aparência desagradável .
Acrescento ainda os alimentos que contêm quase que somente carbohidratos [junk food], fora sua quase total industrialização, o que leva a uma desnaturação e conseqüente perda de qualidade.
Reconhecendo-se que quase tudo o que ocorre de ruim nos EUA aparece depois muito pior no Brasil, podemos imaginar que a situação entre nós é muitíssimo pior.
Voltando à pesquisa citada de Klesges , a razão de uma pessoa vendo TV gastar muito menos energia do que até uma pessoa em repouso sem dormir é clara: a TV induz um estado de sonolência, um estado semihipnótico. A minha descoberta em 1979 desse fato, ao qual dou importância fundamental para entender os efeitos da TV, ao ler o livro de Jerry Mander , fez-me mudar radicalmente as palestras que eu dava contra a TV desde 1972; em 1982, quando escrevi o primeiro artigo contra a TV, usei esse argumento como ponto central .
Foi por meio de Mander que cheguei ao primeiro trabalho sobre esse tema ), que examinou o efeito no eletroencefalograma, bem como o efeito de movimento dos olhos, de uma pessoa vendo TV e lendo revistas de moda.
A predominância de ondas alfa do EEG e a quase total falta de movimento dos olhos no caso da TV mostram o estado de desatenção (uma pessoa no escuro, ou com olhos fechados, apresenta a mesma predominância das ondas alfa, de 8 a 13 Hz, ao passo que no claro imediatamente passam a predominar as ondas beta de 14 a 30 Hz).
Esse estado de sonolência pode ser comprovado observando-se a cara abobalhada de qualquer telespectador, principalmente crianças (que têm o rosto menos rígido). O livro de Patzlaf (2000) traz uma seção inteira sobre o "estado alfa" (p. 26); ele chama a atenção para o fato de esse estado poder ser produzido também em atividade mental, como na meditação. Nesta, desprende-se mentalmente de impulsos sensoriais e volta-se a consciência exclusivamente para o interior – ver meu ensaio a respeito.
Obviamente, o estado interior da meditação é de profunda concentração interior, e não de passividade ou sonolência.
O mesmo se passa nos chamados "sonhos acordados" (day dreaming), onde os olhos ficam parados. Mulholland , citado por Patzlaf , verificou que as ondas beta sempre amortecem as alfa "quando se passa um reconhecimento e uma verificação do ambiente, onde os olhos repetidamente fixam-se e em seguida acomodam-se. Se os olhos perdem o objeto visual ou o abandonam, independentemente do motivo, voltam as ondas alfa."
De fato, a fixação do olhar em algum objeto requer um esforço de vontade, como pode ser verificado por qualquer pessoa. Segundo Kubey e Csikszentmihalyi (1990), citados por Patzlaf (p. 127), quanto ao EEG pode-se considerar ver TV como um caso especial de "sonhar acordado".
É devido a esse estado semihipnótico que as pessoas conseguem lembrar-se de pouquíssimas notícias logo depois de verem um noticiário nacional. Recomendo aos leitores fazerem a experiência de perguntarem a uma pessoa que acabou de assistir um noticiário quais notícias ela lembra, obviamente sem contar antes que ela será sujeita a esse teste. Emery e Emery (1976, p. 66) relatam que, em San Francisco, uma enquete feita por telefone mostrou que mais da metade das pessoas não se lembrava de nenhuma notícia sequer!
O prof. Anderson Paulino, hoje diretor de escola pública no Rio de Janeiro, testou esse fato em uma de suas palestras: de 15 manchetes que ele projetou numa TV a partir de uma gravação, nenhuma pessoa conseguiu lembrar de 3, e apenas algumas lembraram de 2 – por sinal, as 2 notícias mais violentas (comunicação pessoal).
Esse efeito de a TV colocar o telespectador em estado de sonolência, semihipnótico, é muito fácil de ser compreendido.
Em primeiro lugar, a rápida sucessão de imagens da tela impede que o telespectador imagine seja lá o que for – compare-se com a leitura, por exemplo, de um romance, onde tudo deve ser imaginado.
Essa verdadeira impossibilidade de criar imagens próprias significa um abafamento do pensamento imaginativo. Por outro lado, a rápida sucessão de imagens impede que o telespectador reflita conscientemente sobre o que está vendo. Postman , dá a duração de 3,5 segundos para cada tomada de câmera nos canais abertos, isto é, 17 por minuto. Mander mediu uma média de 10 a 15 do que ele chamou de "eventos técnicos" (mudanças de imagem ou de som) por minuto.
Eu mesmo fiz esse levantamento em 9/1/2000 e detectei 16,3 mudanças só de imagem em um comercial da Globo (Setzer 2005, p. 53). Um levantamento que fiz em 2008 deu uma média de 20 mudanças por minuto, sendo que em um video clip contei 60 por minuto, um verdadeiro festival psiquedélico!
O leitor pode confirmar essas avalanches por conta própria. Imagino que nos video games de ação a velocidade de mudança de imagens aproxime-se da dos video clips.
Faça-se a simples experiência de manter o pensamento ativo, refletindo-se sobre cada imagem ou fala transmitidas: em cerca de meio a um minuto ficar-se-á mentalmente exausto.
Observando-se a si próprio, verifica-se o relaxamento mental que a TV produz; quando um programa exige algum raciocínio ele é normalmente considerado monótono, e a tendência é do telespectador mudar de canal, se já não tiver adormecido antes – há pessoas que têm uma proteção natural contra a TV: ligam-na e logo adormecem.
O relaxamento mental associado à inatividade física (isto é, falta de exercício da vontade) faz com que sobre apenas a atividade interior de ter sentimentos.
É por isso que os programas apelam invariavelmente para as emoções.
Mander afirma simpaticamente que TV transmite violência não devido ao gosto dos telespectadores, mas por ser o que é melhor transmitido por esse aparelho .
Para Neil Postman (1987, p. 87), para que algo seja transmitido pela TV e prenda a atenção do telespectador, deve sê-lo sob a forma de show; com isso, tudo no mundo transformou-se em show: educação, política, e até religião. Vale a pena citar o autor: "... o que estou dizendo aqui não é que a televisão é uma diversão, mas que ela transformou a própria diversão na forma natural de representar toda vivência" (idem).
E o que não é feito em forma de diversão parece monótono, como em geral são as aulas nas escolas.
Goldfield et al. (2006) relatam experiência feita com 30 jovens com excesso de peso ou obesos (todos com IMnos 15% superiores da população em geral).
Todos os jovens receberam monitores de atividade física, usados cada dia durante 8 semanas, com 2 reuniões semanais para descarregar os resultados. Eles foram divididos em 2 grupos, de 14 e 16 jovens; o primeiro grupo, de intervenção, recebia créditos de uso de TV, VCR ou DVD, na razão de 1 hora de uso desses aparelhos (o que foi controlado por aparelhos ligados na tela) para cada 400 contagens de atividade física (correspondentes a 1 hora dessa atividade).
O segundo grupo, de controle, não recebeu esses "créditos", isto é, podia usar quanta TV quisesse.
O grupo de intervenção mostrou um aumento significativo na atividade física (65% para 16% do grupo de controle), aumento dos minutos de atividade moderada para intensa (9,4 para 0,3) e, o mais importante, diminuição dos minutos de ver TV (-116,1 para +14,3).
Segundo eles, "... o grupo de intervenção também mostrou mais mudanças favoráveis na composição do corpo, ingestão diária de gorduras, e ingestão de energia de salgadinhos (snacks), comparado com o grupo de controle. Reduções no comportamento sedentário foram diretamente relacionados com reduções no IMC, ingestão de gorduras, e de salgadinhos enquanto viam TV."
Assim, o estudo mostrou uma relação causal entre assistir TV e obesidade.
Enfoque para obesidade, mas sem duvida há ainda outros males a se considerar...Sem duvida alguma.
Referências:
1-http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/efeitos-negativos-meios.html -Valdemar W. Setzer
Depto. de Ciência da Computação, Instituto de Matemática e Estatística da USP
www.ime.usp.br/~vwsetzer
Original de 12/08; versão 15.3 de 27/5/14
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