quarta-feira, 2 de abril de 2014

Que encanto... não resisti e transcrevi.... Obrigada Manoel de Barros - que serviu de inspiração ao João......


  Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
  Com janelas de aurora e árvores no quintal -
  Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
  E ao crepúsculo fiquem cinzentas 
como a roupa dos pescadores.



O que desejo é apenas uma casa. 
Em verdade, Não é necessário que seja azul, 
nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.



Sem nome, porém honrada, Senhor. 
Só não dispenso a árvore,
Porque é a mais bela coisa que 
nos destes e a menos amarga.
Quero de minha janela sentir 
os ventos pelos caminhos, e ver o sol 
Dourando os cabelos negros       e os olhos de minha amada.


Também a minha amada não dispenso, meu Senhor.
Em verdade ele é a parte mais importante deste poema.
Em verdade vos digo, e bastante constrangido, 
Que sem ela a casa também eu não queria, 
e voltava pra pensão.





     Ao menos, na pensão, eu tenho meus amigos 
     E a dona é sempre uma senhora 
    do interior que tem uma filha alegre.
    Eu adoro menina alegre, 
    e daí podeis muito bem deduzir 

    Que para elas eu corro nas minhas horas de aflição.
    Nas minhas solidões de amor e nas minhas solidões do pecado
   Sempre fujo para elas, quando não fujo delas, de noite,
     E vou procurar prostitutas. 
    Oh, Senhor vós bem sabeis
    Como amarga a vida de um 
    homem o carinho das prostitutas!


    Vós sabeis como tudo amarga 
  naquelas vestes amassadas
   Por tantas mãos truculentas ou tímidas ou cabeludas
  Vós bem sabeis tudo isso, e portanto permiti
  Que eu continue sonhando com a minha casinha azul.



   Permiti que eu sonhe com 
a minha amada também, porque: 
  - De que me vale ter casa sem ter 
mulher amada dentro? 
   Permiti que eu sonhe com uma que ame 
andar sobre os montes descalça
  E quando me vier beijar faça-o 
como se vê nos cinemas...
     

Ora díreis: daria eu uma pobre mortal, que sou... como poderia resistir , e deixar de visualizar esse poema, de tão nobre estirpe? sonhe sonhos de menino, e vista-se com a pele de um adulto...Sonhe sonhos multicores...Reflita como reflete a lagarta, quando tem que trocar de pele... para sobreviver...
                                    abçs fraternos...
Mais uma letra desse nobre escritor:
Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava
bom-dia aos sapos, ao sol, às águas.
Só tinha receio de amanhecer normal
Penso que ele era provedor de poesia como as aves
e os lírios do campo.

Manoel de Barros.

Um comentário:

  1. O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.
    Antoine de Saint-Exupéry

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Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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Que lugar é esse ? One club of The chess... greast ...