Lá em Paratinga há algum tempo atrás, existiam caminhos que nunca nos atrevíamos seguir, a nos aventurar, exceção aos mais velhos! que sabiam entrar e sair mata a dentro acompanhados pelo meu tio meninão Miguel... o mais novo dos irmãos de minha mãe.
Havia um mistério sempre a ser desvendado quando o assunto eram as terras do Tomba Surrão!
Talvez por que os mais velhos , nos colocassem medo, ou porque por que naqueles atalhos já haviam acontecido tragédias, ou por morar pessoas de fora, nos quais não tínhamos contato, sei lá...
Mas... como menino é coisa do cão... meus primos iam e vinham daqueles lugares "proibidos" e, sempre que voltavam traziam novidades... frutas exuberantes... animais diferentes e lindos...pássaros mais vistosos e coloridos dos que estávamos acostumados a ver!...e, como naquela época não havia preocupação com o IBAMA, eles chegavam com os bichos e os criavam, às vezes recebiam boas ofertas e os vendiam! tatus , onças , lobos ,tamanduás, veados, cobras ...
Mas, eles nos aguçavam a curiosidade porque diziam que lá era a terra do nunca!
E, que os animais quase falavam... e etc...e tal.
Um dia, trouxeram um bebê macaco, que a mãe havia aparecido morta, talvez picada por uma cobra ?!ou outro animal, e tiveram que trazer o bebê, antes que fosse atingido também.
Foi o maior frisson, ao chegarem...
Minha mãe xiou, e mandou-os devolver o animal...
Meu tio, que estava junto,e era merecedor de confiança, disse:
Vamos criá-lo até que tenha mais idade e fique esperto, ai soltamos do outro lado da ilha num lugar seguro, e sem caçadores.
Como não recebeu repreensão por parte do meu avô - o bichinho foi ficando por lá.
Dávamos mamadeira de leite de cabra,e colhíamos bananas para ele...diariamente, era uma fila de gente que se achegava para ver o recém chegado, como se fora um novo rebento, o que não deixara de ser mesmo!
Tivemos que manter as portas e janelas fechadas da casa, para que o nenem não fugisse, e Joanita vivia reclamando que já não bastava uma casa tão grande, agora tinha que limpar sujeira de macaco!!!
Mas, sabíamos que era da boca pra fora, por que vez ou outra a pegávamos acalentando o animalzinho no colo , como fazia comigo quando da mesma idade!
E dizia, que amaldiçoado fosse, o causador daquela tragédia: Matar uma macaca amamentando ?!
Só muita maldade, por que tinha certeza, mesmo não a tendo visto, que fora morta por rifle, e não por mordida de cobra!
* Porque sabia que os bichos não se matam à toa.!!!
Pero que sim, pero que non ; nós evitávamos que o bicho fosse longe, e até colocamos uma coleira em seu pescoço e o mantínhamos como um cão... pela casa, e sempre ele pulava em nosso colo por medo, ou pra ganhar um carinho a mais... uma banana, ou um brinquedo de pelúcia meu.
Sei que um dia , finalmente recebi um convite para ir até as terras distantes, porque era Primavera, e segundo relatos, lá haviam as flores mais belas e exóticas de toda a terra.
Como não poderia deixar de recusar um convite desses , parti eu.
Às escondidas , num dia que não haveria aula, menti que haveria ensaios de Festa da Primavera e, ficaria na escola até as dezoito horas, mas que ninguém precisava me buscar , porque depois iria para a casa de meu avô, e viria embora quando minha mãe fechasse o bar.
Plano arquitetado, fiz minha bolsa de escola, coloquei um lanche, um short por debaixo da saia do colégio,e como meu primo quem me levava para a escola montei em sua bicicleta radiante, não antes de dar inúmeras recomendações ao Luizinho, para que tomasse conta do Zézinho (o macaco), e não o deixasse fugir... a minha prima, esperta que só ela, percebeu meu entusiasmo extra, aquele dia, e chegou a me perguntar o que eu eu estava aprontando:
Nada Nita...tudo na mesma de sempre...
A Cristina que era outra gatuna - mandou-a que deixasse pra lá a menina de porcelana, só estava feliz, devia de ser porque ganhara um irmãozinho novo...Uahsuahusahus... gargalhou alto como era de costume - se referindo ao novo hóspede da casa. Um bebê macaco!
Meu irmão sabia do plano, foi ele quem dera autorização para eu ir junto com eles...(Seis ou sete meninos, e só eu de moleca).
Digo que ele dera autorização... porque por ali - tudo tinha uma organização rígida: Ele mandava, e nós obedecíamos, exceção do Luiz, que saía na porrada, quando o outro queria liderar demais...
Era o seu jeito de dizer f...da p.... - alto e em bom tom na base da pancadaria...
Muito sugestivo- e nós gostávamos de ver o circo pegar fogo, entre os dois!
Lá fui eu...Montada na monarck , do meu primo Ostinho.
Este embora tivesse um defeito no braço, causado por uma fratura, ainda em criança, era em quem eu mais confiava para ir na garupa da bike.
Eles já não iam por lá mais ou menos um mês , desde que trouxeram o macaco, com medo de alguém reclamar a posse do animal, ou achar que fossem eles, quem tivesse morto a mãe.
Tiveram essa precaução.
Me lembro do rosto da Joanita ao me ver subindo na bicicleta do meu primo, e, disse-me que mais tarde iria na escola falar com Dona Honorina, minha profa, para tratar assuntos da Festa da Primavera...disse-lhe : Num precisa Nita, eu peço a ela pra escrever tudo o que for precisar, e trago num papel pra você!!! não tenha esse trabalho, fica ai brincando com o Zézinho e olho nele !!
Nisso, as bicicletas dos outros meninos, já tinham ido alguns minutos na frente, que era pra ninguém desconfiar que os destinos eram os mesmo... meu tio Miguel, não sabia pedalar muito bem, ia na sua mulinha., seu meio de transporte mais rápido, eu queria ir nela, mas sei que as minhas primas iriam desconfiar, porque nunca ia de mula pra escola!
Achei melhor fazer como de costume - o que meu primo elogiou minha decisão:
Sabiamente, Alicinha - não devemos fazer nada que suscinte modificações quando estamos errados! disse-me com algum receio, mas, já que Amaury decidirá, que ele me levaria na garupa, assim fomos...seguindo aqueles caminhos nunca dantes percorrido!!!....
Havia chovido na noite anterior... e o caminho estava na maior barreira...que não dava pra se passar de bicicleta, só meu tio Miguel conseguira passar pelo meio do quase rio, porque a Francisquinha era a melhor mulinha de todos os tempos, conseguia se livrar de qualquer dificuldade , e num tinha tempo ruim pra ela.. era pau pra toda a obra!!!
Mas como ia dizendo o caminho, estava alagado, o que obrigou os meninos a buscarem outro atalho, e como nós saímos depois, nos perdemos deles , ou creio que diante da dificuldade , até esqueceram que eu e Ostinho, vinhamos também..
Meu primo que era meio borrão - falou logo em desistir daquela viagem, mas o pedi e implorei tanto quase chorando, que ele acabou cedendo, e continuou pedalando, agora com mais força porque o caminho tinha poças de lama..e buracos...
Depois de quase 2 horas de percurso, vimos uma clareira... com umas barracas enormes em volta, e umas Picapes, que era o transporte mais usado naquela época, além de lindos cavalos manga-largas , em volta daquele cenário...exuberante
Cheguei mesmo a achar que ali era a Terra do Nunca!...afinal nunca vira tamanho espetáculo.
Os outros meninos liderados pelo meu irmão cantavam e dançavam com aquela gente, e um outro homem de cabeleira presa num rabo de cavalo, mostrava a ele jóias ornamentadas de rubis e esmeraldas, em cordões de ouro, maiores do que eu já havia visto.
Meu primo Ostinho, brecou suando frio, que me derrubou da bicicleta... me causando sérios arranhões no joelho, e lágrimas...
E agora, olha o que você fez!
Psiuuu .. fala baixo, você que que sejamos presos também por eles?
Apontando para o grupo lá de baixo... a essa altura arrastou a bicicleta para uma moita e, se deitou no chão atrás para espionar melhor, segurando minha boca, para não falar alto!
Se eles te verem vão querer que fique por aqui..
Ai não resisti: Comecei a soluçar...Queria ir embora dali já!
- Oxente , cala essa boca...algo me dizia que não era pra trazer você.
Iniciando uma discussão na qual não tinha argumentos, então... e blá.... blá ... blá..... falando com um discurso que mais parecia de um advogado (foi no que se transformou mais tarde) - tudo sussurando baixinho...
Já meu irmão nessa hora , havia desfrutado da confiança do mentor do grupo, e de suas mulheres, e estava muito bem confortável, numa poltrona revestida com a mais linda manta vermelha vermelha, bordada de lantejoulas, tomando algo que me parecia, fui saber depois : Chimarrão!!!
Mas Ostinho, parece que eles são gentis... eu quero ir lá dei um pinote, e fui puxada violentamente pelo braço por ele...
Fica quietinha agora! se não te deixo aqui, e vou chamar tia Blandina, e ai... quero ver o que te vai acontecer ; primeiro porque estás errada em estar aqui, e mentiu que tinha aula...depois se eles cismarem contigo...te levam com eles...nunca ouviu as histórias que o povo conta dessa gente?
Como menina obediente, e que não queria ser descoberta pelo meu erro - obedeci...e valeu a pena!!
Foi de longe... o maior espetáculo que meus olhos já haviam presenciado....
Parecia que era dia de Festival... danças ornadas com fitas... ceias na mesa com frutas ... música ao violino ... dança de espadas ou guerras de espada ... dança do ventre, feita por belas moçoilas de pouco mais de 15 anos pelo que pareciam ao longe... jovens mostravam habilidades em seus cavalos de raça... outras senhoras colocavam baralho , dentro de tendas coloridas ... e ornamentadas com lindas flores... acendiam incensos ... muito mais perfumados que os do meu avô...
Enfim... aquele dia tive a nítida impressão que estava na Terra do Nunca - como meu irmão havia me dito várias vezes....
Aquela gente se parecia comigo... me encantei pelas cenas ....
As crianças tinham olhos claros, ou peles bem morenas... pareciam uma mistura de povos de diversas raças... o olhar era enigmático dizia meu primo - ao que copiei a palavra para usar quando queria me referir a algo que nunca havia visto!
Sei que nós dois ali mesmo escondidos nos encantávamos com o som que chegava-nos aos ouvidos....
Senti imenso apreço e ternura por aquela gente... e juro que se me soltassem iria viajar com eles, conforme meu primo ficava a me contar...que possuíam as suas lendas e crendices, e sua bela História de como haviam sobrevivido, e fugido de terras distantes ( Egito... Romênia ... Índia...) lugares, aos quais, ainda nem ouvira falar... mais me afeiçoara assim mesmo)...devida as guerras e perseguições, tal qual , eram as minhas origens por parte de meus avós paternos - Judeus... havia encontrado minhas raízes de uma forma nunca vivenciada, e justamente ali no interior de Paratinga/Bahia ............
Ficamos ali algumas horas.... e tivemos que voltar antes dos outros, pra que não dessem por minha falta em casa , pois a tarde já estava escurecendo...
Meu irmão... meu tio Miguel ... e os outros primos e amigos... ficaram ali a noite quase toda....e ao retornarem notei as expressões de felicidade pela troca de identidade e amizade selada!!!
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Sidney Magal
Depois daquele dia nunca mais duvidei das excursões dos rapazes...
Nada mais também comentamos - como num pacto de ética e de fidelidade!
Trocavámos apenas olhares entrecortados por enigmas...
Minhas primas desconfiaram que eu havia aprontado porque cheguei com os joelhos ralados... mas disse-lhes que levara um tombo , durante a dança..e, o bilhete de Dona Honorina ???
Amanhã ela faz Nita - Num deu tempo de nada hoje ...foi o maior fuzuê com aquela meninada!!!
Era a mais pura verdade da Terra (do Nunca!!)
Besos... de Wladimir , Sarah , Esmeralda, Bóris , Carmem , Diogo e outros tantos amigos... Tchau...
http://sagamistica.blogspot.com.br/2011/09/nomes-de-ciganos-e-seus-significados.html
http://estudoreligioso.wordpress.com/2009/01/30/os-ciganos-e-a-umbanda-divina/
Cès fini ...
Ao Dantes Rosebud.... à família Medeiros El Huack ...
Aos Donato .... e a quem mais tiver descendência com essa gente linda e enigmática....
Lamento não ter esta "descendência linda e enigmática", mas adoro suas histórias.
ResponderExcluirAlicinha linda e enigmática!
Beijos, Poetisa!
Joca!!!
ExcluirVocê também é um CIGANO!!! Sabes muito bem disso, se não nas origens ...que certamente também o és, mas na alma...o teu amor pelos lugares , usos e costumes de outros povos, denota esse fato.
Eu vejo isso claramente!
Obrigada pela leitura... e por ter viajado em minhas Histórias e lendas...tão reais quanto a existência vivida nesses e em outras épocas!!!
Besos... Cigano Joaquim...