quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Intuição ... por que aparece? Por que segui-la? Como fazer um beiju ... Eu me sinto tolo como um viajante. Nessa Terra nesse espaço sideral








A  noite fica comprida, quando temos medo. 

Quando rajadas de trovões, clareiam o céu, e, temos a nítida sensação de que o mundo amanhã não existirá... que tudo agora é uma incerteza, e que a viagem pode ter que parar a qualquer momento!

Eram mais ou menos 3 horas da manhã, e nosso buzão ia estrada a fora, embaixo daquela chuva torrencial... escorregando aqui e ali, quase se chocando nos paredões que se encontravam do lado de fora.

Minha mãe, que aparentava estar calma, tinha seu terço em uma das mãos, e na outra abraçava o Luiz e eu...

Mas num rompante, num ímpeto, resolveu ir lá na frente. Iria falar com o chofer, e mandar parar no primeiro posto ou pousada que encontrasse.

O motorista, cheio de pressa de chegar logo, não queria dar atenção nenhuma a ela, foi quando um motim, e, os demais passageiros, resolveram comprar a briga, e avisar que se o motorista não parasse, iria ter quebra pau.

O  moço assustado , encostou o veículo embaixo de uma árvore , fora da pista, porque por ali, segundo ele não haviam instalações, onde se pudesse ficar, aguardando que o tempo melhorasse; ou o dia clareasse para continuar a caminhada que ainda faltava.

Estávamos com fome, pois a parada anterior estava  há umas cinco horas atrás...

E, nada trouxeramos extra... como era de costume.

O Luiz, coitadinho tinha cara de fome, e resmungava que esquecera a sua merendeira na mesa da cozinha, ainda em nossa casa.

Eu pensei que não fosse ter necessidade de comida extra- e não me preocupei em preparar nada. Aliás estava na idade da vergonha - tinha vergonha de andar carregando sacolas extras - e por isso, não quis trazer nada mesmo. Minha mãe, bem que preparou, mas deixou aos cuidados de outros trazerem, e acabou deixando por lá também.

Mas, nessas viagens, sempre se achava pessoas maravilhosas, que não querem tudo para si, e nos cederam beiju de tapioca, que parecia até estar saindo do fogo... pois vinham embrulhadas em papel plástico, e dentro de uma caixa bem lacrada, dentro de um isopor.





Essa era uma das mais deliciosas comidas, de nossa terra, e do Nordeste em geral, que aceitamos sem perguntar à mãe , se podíamos... o recheio de  queijo coalho derretendo-se na boca soava como um manjar.

A senhora que ofereceu, parecia que tinha o dom de fazer feliz a quem nem conhecia, e ao ver o Luiz reclamar que estava com dor de fome, ofereceu-nos sua comida.

Essa mulher estava vindo do Rio de Janeiro, de onde fora visitar um filho que morava lá , já há uns cinco anos, e agora achava-se preso, por roubo, na firma aonde era empregado. 

Mas, a mãe dizia que o filho era inocente, e que fora armada uma arapuca , para incriminar ele, e que certamente, o advogado, encontraria um modo de soltá-lo da prisão.

E ela viajara , não apenas para matar a saudade do filho. mas para levar a pouca economia , que conseguira juntar com suas costuras, dois anos seguidos, dia e noite, disse que se dessem três mil cruzeiros novos, ao advogado, ele conseguiria soltar o rapaz, e , ela parecia que cria nisso de fato, pois, apesar do esposo não concordar, ela fora ao Rio de Janeiro, e colocou o dinheiro todo na mão do tal advogado, viu o filho uns minutos, deu-lhe um beijo no rosto, e pediu-o  que tivesse fé em Deus, e, que ele sairia logo dali. 

O moço deve ter refletido, em como são as mães, que tudo fariam por um dos seus... até passar por essa situação difícel. 
Em que saira de sua cidade, para um lugar que só ouvira falar de nome, e veio ver o filho, e abençoá-lo.

Eu, apesar da luz ser escassa, pois tudo fora apagado no coletivo, pra poupar bateria, mas presenciava ali, a forma de amar manifesta, no semblante de uma simples mulher!

Aquela seria mais uma das tantas mulheres que trazem o amor manifestado dentro de si, pelo outro. 

Um tipo de amor que não mede esforços, nem consegüências para ir aos lugares mais distantes apenas para ver o rosto do seu filho... que poderia ser um filho ladrão, traficante, estelionatário, bêbado, ou um assassino, não importava para ela quem era ?! 

Apenas o amor a dizia: É seu filho, você o pôs neste mundo, e tem a obrigação de dar-lhe apoio!

Algumas pessoas mais próximas cochichavam que se fosse com elas - não sairiam de suas terras, nessa condição...mas ela fingia que não sabia que estavam falando dela, e oferecia seu beiju, quentinho , a nós que matávamos nossa vontade de comer - a nossa fome de pão, enquanto ela matava a fome de justiça!

Esse era seu terceiro filho, saira de Caitité há cinco anos, com um sonho de vencer, na vida...aprendera a levantar casas com seu pai, e não quisera completar os estudos, colegial como os outros seis, mas era um ótimo pedreiro e marceneiro, por isso, um colega chamou-o para que fosse para o Rio de Janeiro, pois estava grande a oferta de empregos na capital. E ele aceitou e numa manhã partiu dali. Levando apenas 4 calças-compridas; cinco camisas, dois pares de meias, e muitos sonhos de uma vida melhor.... 

A mãe implorara que ficasse, mas ao mesmo tempo, ela sabia que os filhos quando crescem criam asas , e voam para longe do alcance dos pais... aos poucos, disse ela, os outros filhos também foram indo, um para São Paulo; outro para Salvador, a filha para Minas Gerais, atrás de um trabalhador da rodovia, e outro fora para Góias, trabalhar em pedreira. Só restava agora a filha mais nova e um filho adotivo, que era o que dizia que nunca abandonaria seus pais.

A tempestade continuava , e pelo rádio de um dos passageiros ouvimos que a estrada se rompeu, alguns trechos dali a frente, que caira no rio, os dois onibus que passaram naquela hora, não tendo como resgatar corpos agora, devido as dificuldades do local, e a escuridão da noite; e, que esperariam até a manhã do dia seguinte.

Nos entreolhamos, e o motorista veio na nossa cadeira falar com minha mãe, e agradecê-la por tê-lo feito não prosseguir no trajeto como ele insistia em continuar.

Minha mãe - olhou-o seriamente agora, e disse que devemos sempre ouvir a vozinha que vem de dentro da gente, e que ela se chama intuição, e nunca deve deixar de ser ouvida.

Finalmente, consegui dormir, e aguardar o dia clarear. 

Ainda ficamos ali, mais 2 dias na estrada, num restaurante adiante...mas tivemos que parar a viagem, pois mais quedas de barreiras, impossibilitaram de prosseguir...

A natureza é quem nos governa, precisamos ouvi-la falar, e ter atenção em obedecê-la...

Agora, já eram mais de 500 pessoas, mais ou menos, que teriam que aguardar melhorar o tempo, para prosseguir seu caminho.

Ficamos aguardando, e para as crianças, essa viagem, fora como um grande tour... porque não tínhamos noção - dos riscos e perigos...apenas sabíamos que quando chegassémos ao nosso destino, teríamos muito o que contar...






Viajante

Ney Matogrosso

Eu me sinto tolo como um viajante
Pela tua casa, pássaro sem asa, rei da covardia
E se guardo tanto essas emoções nessa caldeira fria
É que arde o medo onde o amor ardia
Mansidão no peito trazendo o respeito
Que eu queria tanto derrubar de vez
Pra ser teu talvez, pra ser teu talvez
Mas o viajante é talvez covarde
Ou talvez seja tarde pra gritar que arde no maior ardor
A paixão contida, retraída e nua
Correndo na sala ao te ver deitada
Ao te ver calada, ao te ver cansada, ao te ver no ar
Talvez esperando desse viajante
Algo que ele espera também receber
E quebrar as cercas que insistimos tanto em nos defender
Eu me sinto tolo como um viajante
Pela tua casa, pássaro sem asa, rei da covardia
E se guardo tanto essas emoções nessa caldeira fria
É que arde o medo onde o amor ardia
Mansidão no peito trazendo o respeito
Que eu queria tanto derrubar de vez
Pra ser teu talvez, pra ser teu talvez




 Obrigadu pelo presente da tua visita!   Besos .......
Brasil
272
Estados Unidos
43
Rússia
30
Alemanha
16
Portugal
12
Israel
6
Espanha
5
República Dominicana
2
Reino Unido
1
Itália
1




Por quantos caminhos até que um dia cheguemos ao fim ...por quantos caminhos haveremos de seguir?

Um comentário:

  1. Suas aventuras contadas aqui são muito gostosas de se ler, todas elas de alguma maneira ensinam ou fazem lembra da minha infância.
    Beijos!!!

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Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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Que lugar é esse ? One club of The chess... greast ...