Por que tantos contrastes? Quando o sertão terá voz... e, um Presidente, o porá em prioridade em seus assuntos mais necessários?
Com enxada na mão ...
caminhando léguas e mais léguas,
o nordestino vai atrás de uma melhor condição ...
um dia após o outro... morreu até sua égua
Aquela, era sua companheira...
Amiga e confidente ...
Acreditava em seu mandante
Esperava quieta e tolerante...
Mas a fome não deu tréguas...
Os dias foram infernais...
Um dia andaram tanto, que ela tombou...e, ele até chorou
Adeus minha mulinha Serafina...
E ele a enterrou, antes que os urubus pudessem tocá-la
Ele não permitiria que comesses Serafina- a sua menina
Texto de Alice Baruch
Nossa terra era predominantemente seca... fazia poucos dias chuvosos naquele pedaço de chão, e de certa forma, já estávamos acostumados àquele clima...
Parece que alguém lá em cima ... tinha às vezes, pena da gente; e olha por aquelas pastagens... e tem dó do gado... dos peixes... das crianças... ai, de repente, sem mais nem menos, envia gotas milagrosas de chuva.. primeiro fininha... depois vai aumentando; os pingos vão engrossando... depois vêm os trovões , os relâmpagos...e ai: cai tudo de vez.
Já fazia bem mais de quatro meses sem águas do céu.
Águas benfazejas... milagrosas... águas da redenção!!!
As minas estavam secas; a água do rio barrenta, ou saloba; que não dava nem pra lavar roupa branca... tinha-se, que levá-la para casa, nos potes, coá-la e, esperar que baixasse o pó amarelo (assentasse) e, só depois, coando novamente, é que se podia lavar as roupas mais claras...já evitávamos até usar branco pela dificuldade em manter a clareza.
No que se podia economizávamos a água... minha mãe dizia: Esta seca tá igual a de 1932- que minha vó Rozenda dizia que tinha que ficar de portas trancadas senão invadiam as casas pra pegar água escondidas, e levar o que achavam pelo caminho.
Mas, o povo mesmo sofrido, encontrava meios para sorrir...
Meu tio Miguel, cantarolava e sapateava em frente a Igreja de Santo Antonio - e dizia que era a dança da chuva... as romarias iam e vinham... a pé, circulando o santo no andor depois da missa, o que obrigava o padre a levar a imagem até o lado de fora da igreja para que as pessoas beijassem e depositassem seus pedidos aos pés do santo.
Me lembro que um dia ouvi o pároco reclamar que "aquele povo tinha muita fé, fé demais" ... Deus me livre!!! O que nos fez rir muito dele, ao dizer isso...
E, mesmo nas condições mais truculentas e difíceis, que nos eram proporcionadas, nós, o povo dali, conseguíamos extrair versos das dificuldades... inspiração nas mais adversas situações...
Os dias se passavam como de costume, mas as noites eram de lamúrias e lamentações!!!
Nos mercados vendia-se de tudo: inclusive arte...panos bordados... redes... filós para cobrir berços de meninos; até porque os mosquitos atacavam ferozmente nesses períodos, achava-se ainda chás de tudo o que eram ervas, patuás, leguminosas, por incrível que fosse, do outro lado de Paratinga, a ilha continuava a dar de tudo, e a temperatura era mais amena, assim quem investiu naquelas terras foram mais felizes, do que os que plantavam por cá...
Meu tio Miguel,tinha um pedaço de terra por ali; e, chegava com os balaios cheios... rindo, pois se achava um super dotado, na enxada... e suas mãos eram tidas como "mãos boas".
Os poetas e poetisas também apareciam com seus versos a nos acalentar a alma...
As folhas de papel em branco não ficavam vazias, pois a poesia brota nos lugares mais incomuns que se possa ver. Como exemplo encontrei esses versos, que achei um mimo:
O sol do meu sertão
(Dalinha Catunda)
(Dalinha Catunda)
*
Quando o sol se esconde,
Carregando o seu clarão.
Bate-me uma saudade
Do sol lá do meu sertão.
Do calor lá do Nordeste
Do céu azul do agreste
Do meu saudoso torrão.
*
Quando o dia amanhece,
Trazendo sua claridade,
Eu me levanto disposta,
Encaro bem a realidade
Pego firme no batente
Até cantarolo contente
*
Mas se o céu escurece,
Fecho o tempo também.
Fico um tanto amuada
Enjoada como ninguém.
Pois nasci na terra do sol
Apreciando um arrebol,
Que noutro lugar não tem
*
Em outros, a Literatura de cordel também continuava a tecer seus versos...e os sentimentos de fé de esperança e de acreditação fortificava as pessoas.
Literatura de Cordel
Literatura
de Cordel
É poesia popular,
É história contada em versos
Em estrofes a rimar,
Escrita em papel comum
Feita pra ler ou cantar.
A capa é em xilogravura,
Trabalho de artesão,
Que esculpe em madeira
Um desenho com ponção
Preparando a matriz
Pra fazer reprodução.
Ou pode ser um desenho,
Uma foto, uma pintura,
Onde o título resume
O que diz a escritura;
É uma bela tradição
Que exprime nossa cultura.
Os folhetos de cordel
Nas feiras eram vendidos
Pendurados num cordão
Falando do acontecido,
De amor, luta e mistério,
De fé e do desassistido.
A minha literatura
De cordel é reflexão
Sobre a questão social
E orienta o cidadão
A valorizar a cultura
E também a educação.
Mas trata de outros temas:
Da luta do bem contra o mal,
Da crença do nosso povo,
Do hilário, coisa e tal
E você acha nas bancas
Por apenas um real.
O cordel é uma expressão
Da autêntica poesia
Do povo da minha terra,
Que luta pra que um dia
Acabem a fome e miséria,
Haja paz e harmonia.
É poesia popular,
É história contada em versos
Em estrofes a rimar,
Escrita em papel comum
Feita pra ler ou cantar.
A capa é em xilogravura,
Trabalho de artesão,
Que esculpe em madeira
Um desenho com ponção
Preparando a matriz
Pra fazer reprodução.
Ou pode ser um desenho,
Uma foto, uma pintura,
Onde o título resume
O que diz a escritura;
É uma bela tradição
Que exprime nossa cultura.
Os folhetos de cordel
Nas feiras eram vendidos
Pendurados num cordão
Falando do acontecido,
De amor, luta e mistério,
De fé e do desassistido.
A minha literatura
De cordel é reflexão
Sobre a questão social
E orienta o cidadão
A valorizar a cultura
E também a educação.
Mas trata de outros temas:
Da luta do bem contra o mal,
Da crença do nosso povo,
Do hilário, coisa e tal
E você acha nas bancas
Por apenas um real.
O cordel é uma expressão
Da autêntica poesia
Do povo da minha terra,
Que luta pra que um dia
Acabem a fome e miséria,
Haja paz e harmonia.
Texto de Francisco Ferreira Filho Diniz.
As modas de viola eram entoadas em momentos de descanso da lida da terra, para encontrar os amigos e reunir a família. Oportunidades que eram sempre aproveitadas com muita alegria, porque a música tem o dom de transformar a tristeza em beleza. A toada "Viola e Vinho" de Almir Sater, sempre me vem a cabeça, porque "Tristeza é mula braba, corcoveia mas se doma".
Mas a riqueza do sertão também era clássica. A cidade possui até uma Filarmônica, a Sociedade Filarmônica 13 de Junho, que completou 110 anos em Maio deste ano, e era através de seus músicos que tínhamos o erudito no sertão.
O chão seco rasgava o solo ... os animais eram magrinhos... e pediam pão - não sobrava nem passarinho solto, e os urubus eram quem se davam melhor.
A visão era de deserto ... de sombras.. e de escuridão
Quem tem a viola ... pra se acompanhar não vive sozinho, nem pode penar...
Muitos tinham que ir embora dali...deixando sua mulher e seus "fios" padecendo no sertão seco....e procurando o sul.
As mulheres eram as responsáveis pela casa.. e por manter a unidade familiar... enquanto os homens iam buscar novos horizontes.
E a vida transcorria seguindo os desígnios do criador...
Abraços....
Músico LINO BRANDÃO - um dos integrantes da Orquestra Sinfônica 13 de junho - há varias décadas... seu apelido é Nininho... Forte abraço irmão!!!
Referências:
1- http://livredialogo.blogspot.com.br/2012/01/literatura-de-cordel_08.html
2- http://culturanordestina.blogspot.com.br/2010/07/poesia-o-sol-do-meu-sertao-dalinha.html
3- http://www.raizcaipira.com.br/fotos/index.html#
4- Sociedade Filarmônica 13 de Junho - http://filarmonica13dejunho.blogspot.com.br/
Esta postagem me fez lembra quando cheguei em Terezina, um calor que nunca tinha visto igual, era um sábado e sai do hotel para dar uma volta e conhecer o lugar. Cheguei em uma praça na beira do rio Parnaíba onde várias mulheres estavam lavando a roupa sobre pedras, na praça tinha barbeiro e venda de artesanatos e tantas outras utilidades, bordados doces, além de várias cordas onde estavam pendurados vários livretos da literatura de cordel, de vários autores, cada um me oferecendo os seus contos que são na realidade parte de sua história e de outros que tanto foram castigados pela seca.
ResponderExcluirBeijos, amada!!!