terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Drummond. Muito bom... O que tem nesse tal coração? O amor bate na porta o amor bate na aorta, fui abrir e me constipei. Cardíaco e melancólico, No aeroporto com meu amigo Pedro.






Carlos Drummond de Andrade

(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
(Resíduo)





   
Coração
O que tem nesse tal coração?Que vive enebriado de paixões...descompasso do sentimento por algo ou alguém?Tolo órgão demente!!!
Por acaso não sabes que te fazem sofrer...?Quando se apaixonas; e te abres...te mostras? Te expõe?Te entregas, e te deixas abater?...
Não seria melhor ser excluso? Um ermitão de Muquem?Um eremita?Ou um monge do Tibet?
Porque eles amam a todos, indiscriminadamente, sem preleção...Amam os rios...as flores...os bambuzais..os pássaros... a terra...Eles tem um grande coração...
Já você não! Tem um coração pequeno e bobo?!Que insiste em ser exclusivista...Imbecil coração!!!
Se amofina...se retrai...se expande...se rompe em devaneios...Se colore de cor es e matizes exóticas...Só para alegrar a quem dele zomba...Desfaz...faz pouco... engana e, às vezes mente...omite...inventa!
Coração: Se fosses de papel - já estarias morto...arrastado pela enxurrada!Se fosse de seda - seria exposto numa vitrine de magazin...Mas como é de pele e músculos: Insiste em bater...
E vai batendo...batendo...num tamboreio ritmico...Como quem diz: Amo...Amo....Amoo..Amooo...Amoooooo somente a ti!!!!!!!!                                           Autoria: Alice Baruch

Carlos Drummond de Andrade
Nasceu em Minas Gerais, no dia 31 de Outubro de 1902, em uma cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra, Itabira. Seus antepassados, tanto do lado materno como paterno, pertencem a famílias de há muito tempo estabelecidas no Brasil [2][3]. Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte, no Colégio Arnaldo, e em Nova Friburgo com os Jesuítas noColégio Anchieta.[4] Formado em farmácia, com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil.[5]
Em 1925, casou-se com Dolores Dutra de Morais, com quem teve sua única filha, Maria Julieta Drummond de Andrade.
No mesmo ano em que publica a primeira obra poética, "Alguma poesia" (1930), o seu poema Sentimental é declamado na conferência "Poesia Moderníssima do Brasil"[1], feita no curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros, Dr. Manoel de Souza Pinto, no contexto da política de difusão da literatura brasileira nas Universidades Portuguesas. Durante a maior parte da vida, Drummond foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguindo até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua filha.[6] Além de poesia, produziu livros infantiscontos e crônicas.

O planeta drumoniano era maior do que suas asas... Minas não era o mundo dele...pois o seu mundo não tinhas fronteiras...nem riachos... tinha mares nunca dantes navegados ...
As marcas na fronte de um homem, devem ser admiradas...sua idade e seus ideais, quando rompem a barreira do tempo, e são levadas pelo vento trazem à tona o significado a que veio! Ainda que seus dias não sejam tão longos, mas se o que ele realizou, fez com que admiradores aplaudissem ...ele construiu um espaço dentro de si...O vazio não foi seu companheiro... e sua vida não foi em vão.


Creio que não existia, depois das suas Minas - algo que ele mais admirasse que não fosse o mar.


Poderia ter morado em qualquer cidade, deste país, ou de outro mundão a fora....mas preferiu o Rio de Janeiro - e sua Princesinha era Copacabana.


Carlos Drummond de Andrade é fotografado ao sair de táxi no Rio, em 1982 
Elegante, refinado, estudado, escritor...sempre poeta...sempre apaixonado por tudo o que derivasse do amor... perspicaz até a raiz da alma...



Drummond na casa da rua Joaquim Nabuco, no Rio de Janeiro, em 1951
Olhar atento... olhar de menino... seu mundo eram as letras...as palavras...as paixões...amou as mulheres como um escultor ama sua modelo...



Criada pelo artista plástico Leo Santana, a estátua mostra Drummond num banco da praia carioca. Era o lugar preferido do escritor. A ideia era reproduzir uma foto feita pelo fotógrafo Rogério Reis, feita para a revista Veja em 1983. Hoje, o monumento é um dos mais visitados pelos turistas que vão à Cidade Maravilhosa. (vi no Facebook)




                                            Eu e o meu poetinha....

Desenhos de Drummond


Artista diletante - Drummond deixou dezenas de caricaturas, rabiscos e figuras de sua família e suas...que estão sendo organizadas em livro que deverá sair ano que vem.




Os ombros suportam o mundo

Os ombros suportam o mundo

Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Ainda há que se destacar - o bom humor de Drummond, era uma marca registrada de seu talento: Leia isso!!!

No aeroporto

Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.

    Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.
Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores.

Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono – e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia – eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos.
Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância.
Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos.

Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973,p.1107-1108

                     Besos... 
                                Obrigadu pela presença....





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REFERÊNCIAS:
 1-  http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade 2-http://carlos-drummond-de-andrade.blogspot.com.br/2009/01/os-ombros-suportam-o-mundo.html 3- http://carlos-drummond-de-andrade.blogspot.com.br/2009/01/os-ombros-suportam-o-mundo.html  4-    http://www.culturaemitabira.com.br/  5-   http://br.noticias.yahoo.com/blogs/vi-na-internet/hist%C3%B3ria-por-tr%C3%A1s-da-est%C3%A1tua-drummond-em-copacabana-/
  6-   http://veja.abril.com.br/multimidia/galeria-fotos/desenhos-de-drummond  7-   http://letrasinversoreverso.blogspot.com.br/2012/07/carlos-drummond-de-andrade-e-arte-de.html  8-   http://zellacoracao.wordpress.com/2011/01/24/meu-querido-amigo-pedro/

Mais um mimo dele:


A PALAVRA MÁGICA
                                 (CarlosDrummond)

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra






4 comentários:

  1. O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
    O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
    O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

    Carlos Drummond de Andrade

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  2. Obrigada por marcares presença no meu blogue: NOTÍCIAS DA LUSOFONIA". Já estou seguindo o seu, viu! Grande abraço, do além-mar...

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    Respostas

    1. Ceicinha..

      É um prazer te conhecer...gostei muito do teu tbm... Excelente...

      Apareça quando quiser... Obgda pela leitura...

      Um dia quero conhecer as terras do além-mar...

      bjusss...

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  3. Drumond é um dos grandes escritores do Brasil, um escritor sensacional, mas, que coisa linda escrevestes sobre o coração, gostei de mais.
    Beijos, amada!!!

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Obrigada pela presença, caso queira deixe seu comentário.

Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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