sábado, 7 de julho de 2012

Cozinheiras ... Focar no que faz ... a Paz.


   Alicinha - brincou de bonecas por um tempo maior do que o habitual...


   Devia já ter uns 14 anos,e ainda a víamos tecendo vestidos para suas bonecas... das sobras de retalhos que as clientes de sua mãe deixavam... Porque ela mesmo dizia: Peço sempre mais um metro para não haver mendicaria, e se sobrar... aproveito para algumas coisinhas a mais...


  Assim tínhamos sempre lençóis novos , ou tapetes de retalhos... colchas cortinas etc...


  Deve ser por isso que até hoje, tenho hábito de colocar tapetes em casa...


  Quando visitei Santa Catarina , e vi aquelas residências cheias de paninhos em tudo o que é canto - me identifiquei com aquela gente...seus bordados e rendas me alegram e, sinto como se fossem minhas vidas passadas aquela região, principalmente quando me recordo que meus avós paternos aportaram em Novo Hamburgo, no período da primeira Guerra Mundial.


  Mas fora o assunto pano e renda: Lembrei-me hoje de como as mulheres de lá de casa - eram chegadas a uma cozinha... e não era difícel, elas virem com uma idéia nova para ser experimentada, ou uma especialidade ainda não testada.


 Vatapá ... caruru .. acarajé ... xin xin de galinha..e outras coisas mais! 


 Afora o trivial: rabada ... buchada ... bobó de camarão ... costela de porco com angu ... feijoada...etc...
esses momentos eram de fina elite culinária .


  A reunião começava cedo na cozinha, ou melhor emendava logo após o café da manhã... ia até a hora de servir o almoço, e emendava com o lanche da tarde.


  O engraçado era, que parecia que havia uma certa disputa entre o povo...porque, cada uma queria mostrar seu livro de Culinária .. outro de bolos e doces... os cadernos forrados com um papel colorido com figuras de colheres , pratos ou da comida chefe do título: Salgadinhos ou carnes etc...            



  A tia Dadá tinha o seu ... a tia Zélia ( era lá do Maranhão e também cunhada de minha mãe pelo outro lado) trazia o seu paladar maranhense ...Cristina também fizera um caderninho com receitas que ouvia pela manhã na rádio Nacional pra ela... embora, coitadinha - copiasse tudo ao seu modo e errado, mas tinha... e, ninguém ousava corrigi-la, pois a questão era , saber se a receita daria certo, e não; se tinha erros verbais ou gramaticais...


 Leonídia que a chamavamos de Dida, era a irmã bem sucedida da Cristina e da Nita, não era muito chegada em cozinha, e dizia que quem era bom na cozinha era Oswaldo - seu marido... assim ela ficava por ali apenas espiando , e se arriscando a dar uma colherada nas panelas , pra provar e dar um palpite, mas era declaradamente não adepta de cozinha.


 E, os quitutes se faziam mais cheirosos...a alegria de compartilhar, fazia parte do imaginário de cada menina ali...


 Os amigos iam se juntando e se chegando com alguma novidade, pois se viessem de mãos vazias, além de receberem um carão, ainda tinham que sair à feira , ou a Mercadinho mais perto para comprar alguma guloseima, ou refrigerante. 


  E as horas se passavam rápidas e sorrasteiras... naqueles dias, que tinham algo de sagrado de belo e essencial.


 Talvez pela reunião em prol de algo prazeroso, e que fizesse bem a todos.


 Talvez porque o local emanava uma atmosfera como se fosse uma egrégora. E pairava no ar uma energia sublime! e além do mais para as crianças ficava os prazeres dos tachos e das colheres de pau para se lamber.


 Quando em qualquer local há um ajuntamento de pessoas , que falam a mesma coisa, e se firmam com um propósito, essa coisa toma forma e flui. 


 Os rostos mostravam-se contentes, o dia se enriquecia de experiências, as pessoas se juntavam, não só com um mesmo propósito - mas com um prazer em mostrarem o que sabiam... naquele momento , talvez, todos estivessem de corpo e mente presentes... ligados por uma energia tênue, que aproxima, e traz pra perto a paz..


 Acho que essa é a melhor palavra para definir um prazer ou contentamento: Encontrar a Paz. 


 Temos paz, quando focamos num momento... sem divisões ou duplicidade de sentimentos.


 Temos paz, quando conseguimos admirar a um semelhante, e mesmo querendo ser ou fazer tal qual ele faz, não sentimos uma inveja descabível, nem emanamos rancores.


 O momento que criamos algo - é ímpar... cada momento desse é único e surreal, quer estejamos cozinhando, tecendo, pintando, plantando, acariciando... curando ...etc...


 Portanto, creio que deveríamos sempre focar no momento presente com mais afinco e intensidade. porque além dele ser único, é também forte em resolução, e qualquer distração pode nos causar danos, da natureza que for o serviço.


 Gosto do momento presente..de observá-lo... visualizar a chama do amor nas mãos de quem cria, tece, alimenta, corta, prepara etc...


 Gosto de saber que o que me vier a receber fruto daquela atividade será do bem  querer... portanto terá todo o sabor da vida, da energia das mãos, e do gesto caridoso da doação. 








Vatapá

Dorival Caymmi

Quem quiser vatapá, ô
Que procure fazer
Primeiro o fubá
Depois o dendê
Procure uma nêga baiana, ô
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Procure uma nêga baiana, ô
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola, iaiá
Na hora de temperar
Não para de mexer, ô
Que é pra não embolar
Panela no fogo
Não deixa queimar
Com qualquer dez mil réis e uma nêga ô
Se faz um vatapá
Se faz um vatapá
Que bom vatapá
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola
Iaiá na hora de machucar..





     Boa noite... Ótimo domingo




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