quinta-feira, 21 de junho de 2012

Êta seca braba - O Nordeste parecia que ia incendiar...Ensaboa mulata, ensaboa!! Sustentabilidade?



        " Êta tempos dificil - êta Nordeste que sofre...terra de mulheres fortes...Voltavam do rio com a troxa de roupa,e, ainda carregavam os meninos nas costas..."




    A seca castigava. 


  E, embora ninguém ouvira o termo sustentabilidade, todos sabiam que seria preciso poupar a água.


    Por isso minha mãe, dizia: Banho rápido e pouco... nada de ficar molhando calçada, ou dando banho na mula... e a roupa deve ser lavada somente uma vez por semana...e não pode ficar trocando de vestidos e meia etc...


   Essa seca tá parecendo a de 32!... que ainda me lembro que mamãe controlava até a água do pote, e quem pedia um copo d`água ela media a quantidade, e não oferecia mais.


    Assim , se minha intuição não falhar vai demorar uns 12 meses sem chuva na caatinga... e vamos ter que beber água do cactus, só sinto pelos animais... principalmente.


    A gente sabe poupar!!!


    Nem sempre dizia a minha prima, Joanita...a dona Sinhá tá levando uma trouxa enorme pro rio, e pelo jeito vai ficar por lá o dia todo...até secar o rio de vez!


   Mas , interveio a irmã Cristina: Ela vevi disso eu heim ... ocês agora vão querer que a muie pare de ganhar seu tostão.... o que ela vai colocar na boca dos fios?


   Com isso já havia ferido os ouvidos da família toda, e, antes de ser dada a resposta, eram feitos as correções lexográficas e de línguagem!


   Ha... vão pra M...! ela saía dando pinote que nem burra braba...e. não voltava pra ninguém dizer o que achou da opinião que dera. 


   Essa menina é revoltada, dizia a mãe.


   E, Alicinha logo queria saber o que era uma menina revoltada? O que nem sempre alguém me daria a resposta, tinha que esperar até o dia seguinte pra perguntar à professora Honorina, (e minha madrinha de crisma), que era a mulher mais inteligente e, sabia as respostas pra tudo o que a gente perguntasse!.


   Meu irmão chegava e falava assim: É melhor ser uma menina revoltada do que burra.... Uahsuahsuahus.... sabendo que eu iria me zangar e, sair correndo atrás dele com o que tivesse na mão, ao que meu irmão Luiz Carlos vinha me ajudar... deixa que eu bato nela!. 


   Nele... o outro o corrigia, e ai a correria pela casa era o dia todo...


   Até minha mãe vir com o chicote atrás de nós, dava umas lanhadas nas pernas, de cada um, exceção para o Luiz , porque ele era diferente!


    Só que já havia uma semana que Nitinha não levava a roupa pra lavar, no rio- velho Chico, e estavamos quase sem roupa de andar em casa...e a menina Alice tinha que ficar sentada na porta da rua olhando as outras crianças se esbaldarem, porque ela, estava usando suas melhores roupas de cambraia importada, e não podia correr o risco de alguém rasgá-la ou manchar com nódoa de manga, ou sorvete de tamarindo.


     Nita eu posso ir também lavar roupa da Rita Pavone (minha boneca)?


     -Claro Licinha , até porque eu fico preocupada com você ficar ai em casa sózinha! Luiz e Amaury vão pro bar de Blandina, mas lá não é lugar pra você... e na casa de seu avô Nilino, tem o Tonho que implica com você, e puxa seu cabelo... é melhor você vem com a gente.


    Um adrendo: O Tonho era um negritinho que minha tia Rosalina adotou , filho de uma irmã sua que desapareceu na garupa de um caxero viajante, sertão adentro. O menino achava que a mãe tinha morrido.. mas um dia ela reapareceu, e a irmã não queria que o menino soubesse da mãe, mas essa tinha lá seus direitos, e carregou o menino pra morar com ela, mas não aguentou o moleque , porque era comilão, e ainda por cima chorava demais.
  A mãe depois de um tempo veio devolver o filho, e arribou pra São Paulo!!!


    Bem... coloquei meu chapéuzinho branco, e um vestidinho quadriculado de vermelho e branco, umas chinelas, e fomos pro barranco... eu , Cristina e a Nita, ambas de saias floridas de chitão, uma rodilha na cabeça.. lá íamos nós.
   Esse dia era também um dia cheio de novidades, e fofocas...


   Ao chegarmos na beira do rio, uma cem lavadeiras já estavam por lá, tivemos que aguardar a fila andar - até porque o barranco não cabia mais ninguém: Estavam lá: Luiza de Bueno, dona Maroca , Helena , Tina , Lucinda , Valdelice ,e muitas outras anônimas trabalhadoras da limpeza da roupa.


   O sabão era feito de mamona e de coco, e o cloro pelo jeito já existia pois a brancura das roupas dos seus Coronéis era de dar inveja a qualquer doutor... além do anil que era certo ter. 


   Esse momento, apesar de ser duro, também era o momento das moças , senhoras e negrinhas trocarem receitas de todos os tipos, digo negrinhas porque a população baiana é 90% de negros, então era comum a gente chamar umas ou outras de preta, era também um apelido carinhoso, e além do mais , já não havia mais escravatura, portanto as donas de casa eram as próprias lavadeiras, em sua maioria... exceção àquelas em que o padrão de vida favorecia que tivesse empregadas, pois o hábito na maioria das vezes, era de se adotar meninas muito novinhas, e à medida que cresciam iam tomando seus lugares nos afazeres da casa, mas chamavam a mãe de mainha! igual aos filhos naturais.


   Minha madrinha dona Nina por exemplo, tinha dois filhos dela, e seis ou sete de cria!!!`Portanto tinha gente suficiente para as tarefas da casa, e ela trabalhava na Farmácia que herdara do pai , meu padrinho: Miroca, marido de Pombinha.


   Outro costume muito normal por aquelas bandas, era o uso de apelidos! Muitas vezes cada um bem feio longe dali...


    No rio, o sol era escaldante, e Cristina reclamava que ia ficar mais preta do que já era...e achava que era uma mentirada só dizerem que a princesa Izabel assinara a Lei da Abolição da escravidão, porque aquilo ali era a própria escravidão! Sua irmã ralhava com ela, mas não tinha jeito, ela ia falar até cansar que a escravidão na Bahia ainda existia!!


   Deixa Nita ela falar, minha mãe não disse que ela é rebelde!?
bobagem mandar calar a boca!


   E assim, aquelas duas e outras mocinhas da época, ficavam ali, naquela escravidão com certeza , esfregando, batendo, ensaboando a roupa dentro de bacias enormes, torcendo, com aquelas mãozinhas ainda pequenas, e já cheia de calos de tanto trabalhar, quaravam no capim, e tinham que tomar conta pra não trocarem as roupas, e trazer roupas piores as que tinham levado.e, enquanto as roupas das outras famílias, tinham vestidos, a nossa pelo menos as de minha mãe, eram na maioria calças compridas, pois ela seguia a linha do Rio de janeiro década de sessenta, e usava com suas blusas de mangas compridas dobradas tipo homem, e as calças compridas, o que fazia com que as mulheres a admirassem, e os homens criticassem, e/ou vice-versa.  


   Finda a tarefa depois de horas expostas ao sol voltávamos com as bacias de alumínio na cabeça, e uns meninos trazendo água nos potes amarrados aos burros para fazer a comida, pois a água do poço que nos abastecia era barrenta e saloba!....







Projeto: Memórias dos brasileiros






GERAÇÃO DE RENDA

Mulheres lavam roupa no Parque do Cocó

09.05.2010
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MUITO TRABALHO: as lavadeiras têm de acordar muito cedo, carregar carrinho de roupa, passar o dia na labuta, sem ganhar muito por tudo isso. Elas querem mais valorização
JOSÉ LEOMAR
Apesar de existir uma estrutura montada no local só para que elas trabalhem, falta reconhecimento
Quem passa pelo cruzamento formado pelas avenidas Engenheiro Santana Júnior e Padre Antônio Tomás, na Capital, pode desfrutar da vista da bela paisagem do Parque Ecológico do rio Cocó. No entanto, poucos sabem que, ali, um grupo de mulheres utiliza o espaço para garantir o sustento de suas famílias, lavando roupas.

O lugar, repleto de árvores, pássaros, riachos e trilhas, além de receber estudantes, virou atrativo turístico. Pela manhã, é possível ver também dezenas de pessoas correndo ou fazendo uma caminhada. Mas, muito próximo a tudo isso, existem mulheres trabalhando. Muitas vezes, parecem ser invisíveis aos olhos de quem passa ali, entretanto, há 30 anos, elas lavam roupas no rio Cocó.

A rotina da lavadeira Maria do Socorro da Silva, 63 anos, começa às 5h da manhã. Ela acorda cedo para deixar o almoço pronto para a filha, enche o carrinho de mão com cerca de 50 quilos de roupas e segue caminhando cerca de uma hora do Conjunto São Vicente de Paula, mais conhecido como Comunidade das Quadras, até o Parque Ecológico do rio Cocó.

Esforço
Maria do Socorro nasceu no município de Sobral, região Norte do Estado, mas aos 20 anos de idade soube, por intermédio de amigas lavadeiras, que teria oportunidade de trabalho na Capital e veio morar em Fortaleza. "No início, eu lavava roupas no Parque Rio Branco, mas logo fomos impedidas. Então, no ano de 1979, viemos lavar no Rio Cocó ", lembra.

Ela conta que, no começo, o lugar era muito perigoso e sem estrutura. Mas, nos últimos anos, com o segurança da Companhia de Polícia Militar Ambiental (CPMA), o trabalho ficou mais fácil. Além disso, em 2006, diante de um abaixoassinado realizado pelas lavadeiras, o Governo do Estado construiu uma lavanderia toda equipada para que elas pudessem trabalhar com conforto.

Segundo a assessoria de imprensa da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), essa foi também uma maneira de evitar a poluição do Rio Cocó, pelo sabão utilizado por elas. Mas, apesar da tranquilidade do lugar, do vento fresco e do canto dos pássaros, Maria do Socorro diz que não é fácil a vida de lavadeira, pois faltam reconhecimentos social e financeiro. Ela ressalta que, muitas vezes, fica no prejuízo. "Se não fosse a minha aposentadoria, morreria de fome, pois minhas patroas só me pagam R$ 30,00 por dois dias inteiros de trabalho", desabafa.





http://pitacodoleo.com.br/blog/4890/as-lavadeiras-do-sao-francisco/



 
http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/artigos/z995.htm






 



                       Foto compartilhada de Fred Santos.


                                  Tô pasma: Já vem outro final de semana.. bjusss....


A alma do Brasil - é o forró!! Renata Perón - 


Praça da República.. São Paulo. Terra de muitos costumes...e pertence a todo mundo...


" Pra surdo ouvir....pra cego ver...esse xote faz milagre acontecer"  


Bom final de semana...E haja inspiração Senhor...bjusss!









3 comentários:

  1. Alicinha, essa temática toca fundo na alma de um nordestino.
    Vivi em muitas cidades sem água, sem meio de vida, mas nunca sem sonhos.
    A seca provocava muitas carências, e quando era época de chuvas, se dava uma verdadeira festa.
    Logo a terra ressecada se vestia de verde, e era uma cena comum avistar, na beira de um rio,uma lavadeira na lida de tirar as sujeiras das roupas.
    Nosso povo sofrido sabe o valor de cada gota de água, muito antes de se falar em desenvolvimento sustentável e outros conceitos de meio ambiente ou ecossistemas.
    As lavadeiras são verdadeiras heroínas, pois contribuiram em muito para o desenvolvimento social, muito antes de alguém sonhar em máquina de lavar ou de secar.
    Elas madrugavam com suas trouxas nas cabeças, caminhando um tempão até chegar nas margens do riacho ou de alguma corredeira para iniciar seu serviço de sol a sol.
    Para amenizar a dor nas costas e nas mãos, elas cantavam, talvez para espantar a triste sina de passar toda uma existência nesse trabalho de servidão.
    Mas muitas têm orgulho de criado seus filhos, graças ao fruto desse honroso e digno trabalho.
    Parabéns a todas essas guerreiras!
    Linda homenagem, Alicinha, parabéns!
    Do amigo, José Maria Cavalcanti
    www.bollog.com.br

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  2. Realmente amigo...

    Valorizo muito o trabalho dessas pessoas que prestam um serviço de muita utilidade, criam sua família com o suor do rosto, e os calos das mãos...

    Presencie essas cenas inúmeras vezes.. e acho que o quadro visto é uma das cenas mais fortes que carrego, de uma beleza suada e simples... porém honesta e firme.

    Leia também as benzedeiras.

    Bom fim de semana.

    Obgda pela visita.

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  3. Povo sofrido, eu vi mulheres lavando roupa no rio Parnaíba em Teresina, uma capital. Povo valente que vive quase sem água.
    beijosss.

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Obrigada pela presença, caso queira deixe seu comentário.

Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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