sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Carro de bois... Existem mais mistérios entre o céu e a terra... manifestação, ou intercâmbio com outros mundos?


Não havia estradas normais naquela época, e alguns lugares encharcavam durante a época de chuvas, logo tinhamos que andar de carro de boi mesmo, era a única solução. 
Ou então corríamos o risco de não poder passar...

Mas pra nós guris, nada era mais agradável do que essa aventura!


O que não é aventura em cabeça de menino? ou de uma menina?


Todas as formas de divertimentos, podem ser criadas, em tão poucos recursos.





Apesar de sairmos muitas vezes, com a roupa esfolada, e as pernas machucadas, as palmas das mãos cheias de lascas, mesmo assim valia a pena a viagem...


Minha mãe, confessava que detestava roça!! Claro para quem morou em Ipanema, nos anos de 1952 , aquilo ali novamente, não podia ser pior! 

Mas para mim, piralha, sem nada a contar e saber, era um começo de vida genial!!

As minha primas idem...tadinhas, cedo perderam os pais, e foram espalhados alhures e algures, ficando cada um com seus padrinhos e madrinhas. A Juanita ficara com minha mãe, e era a menorzinha, e mais linda de todos, acho isso até hoje, revendo detalhes daqueles dias, era mesmo uma anjinha.




Não era apenas a beleza dela que chamava a atenção, era algo em seu interior que marcava sua presença, aonde chegara!!


Os homens principalmente, logo vinham cortejá-la, mas ela sutilmente, e educadamente, sabia sair-se bem, sem menosprezar pessoa nenhuma.


Alicinha, quando alguém vier com gracinha, pro seu lado, é só fechar a cara, e ir se afastando devagar, não precisa ser bruta com ninguém, entendeu!!?


Bem, por ouvir parecia fácil, mas cumprir era o que é meio difícel, até hoje, às vezes temos vontade de estourarmos com certas pessoas, maliciosas, e que nos cercam para dar ordens, sem que nem por que são sempre grosseiras, ou inconvenientes. 


Tenho certeza que ela diria simplesmente: deixa pra lá, faz de conta que não está ouvindo nada!


E, com toda altivez, própria de quem tem um espírito elevado, sabia sair-se de qualquer infortúnio de bajuladores grosseiros.


Um dia, tivemos que ir visitar um parente ao longe, que jazia muito doente, e todos achavam que estava em seus últimos dias.


A Juanita pediu pra ir, e minha mãe, achou estranho, ela quase nada pedira para si, e, por isso, veio junto, o padre já estivera lá para oferecer a extrema unção, ao moribundo, diziam que ele cheirava cadáver em vida ainda.


De início, acharam melhor que eu fosse poupada, mas minha mãe, tinha a máxima de achar que criança, devia saber tudo da realidade do mundo, do bem e do mal! e, como minha anjinha iria, eu tinha que ir também. 

Havia chegado a época das chuvas, e estava complicado , passar por aquelas bandas do brejo, de carro normal, e por isso a viagem seria mesmo de carro de boi.

De início, a Juanita, colocou um tapete no carro por cima, e aquilo me lembrou as viagens de Sherazade, das mil e uma noites, que nos eram contadas antes de dormir.


Um carro de boi forrado - onde já se viu, ouvi esse comentário, mas a Nita não se abalava por nada, e no final quem zombou, vinha se chegando de mansinho, para sentar no tapete também!!


E, ela apenas sorria, e dizia baixinho: Viu Alicinha , como no final, temos razão, assim é na vida! quem está certo terá sempre razão!


Depois de várias horas de atoleiro, conseguimos avistar ao longe a choupana do tal parente, e vimos gente, entrando e saindo com a cabeça baixa, o terço na mão, e o olhar triste.


Percebi, que aquele homem pelo visto, era muito querido nas redondezas, minha mãe dizia que era seu primo, e que por isso, deveríamos vir nos despedirmos.


Entramos de mansinho, em seu quarto, depois de falarmos com as pessoas que já faziam orações sem parar desde a noite anterior,e 
a Juanita antes de entrar, foi até a mata em volta e recolheu pequenos ramos de ervas, de vários cheiros, que eu não sabia dizer o nome, e creio que nem ela mesmo sabia!

Foi até um congá, que tinha ali, que era uma espécie de casinha, com "santos" de todos os tipos em madeira, outros de gesso, abaixou-se lá fora, antes de entrar na casa, e começou a pronunciar palavras, num dialeto, eu creio, que seria dos seus antepassados,e, que até então, eu jamais ouvira ela recitando, 
percebi, pelo muito que eu a conhecia, que suas feições estavam totalmente mudadas, e ela parecia uma outra pessoa. Mais velha inclusive.

Atônitos, eu e os outros a olhavam, sem que ninguém ousasse, perguntar o que estava fazendo, apenas o silêncio, e o murmúrio daquelas palavras, agora mais altas do que no início, e os gestos próprios de quem expulsava algo, ou alguém invisível. 


Eu asseguro, que nunca na história da minha vida, tinha visto aquilo, (tudo bem que a minha vida estava apenas lá pelos 8 ou 9 anos de idade!), mas já era alguma coisa. 


Depois daqueles poucos minutos de fala incompreensível, ela levantou-se, com ar muito séria, e entrou, pedindo com gestos que os demais saissem do recinto. 

Minha mãe me puxou, pra sair, e recebeu uma ralha, com o olhar, e o gesto de que era pra eu ficar, e ela sair.


Obedeceu claro!! O que o fez de mau humor dizendo que estava com dor de cabeça e precisava de um café, que era o primeiro cheiro que sentimos, antes de entrar à casa.


Logo que ficamos sozinhos, ela me deu as ervas, e tirou algumas, de vez em vez, e à medida que passava no rosto do homem, as mesmas saiam amassadas, e ele começava a tossir fortemente, e golfar jatos de sangue. 


Havia na cabeceira uma bacia com água, o que instintivamente eu molhava pedaços alvos de pano e o limpava rápido, e com outro pano colocava em sua testa, com uma folha que pegava aleatoriamente, o que percebia um ar de aprovação da Juanita.


De repente, se travou um diálogo, entre os dois, o rapaz se sentou de imediato, pra quem estivera há 18 dias prostrado, ergueu-se e olhou-a feio,mandando que fosse embora dali...


Eu cheguei a pensar em sair correndo, mas como ela não se abalara, fiz o mesmo, e me lembrei das palavras: quando a gente tem razão, não pode perder a calma, nem se amedrontar com nada.


As pessoas lá fora, mortas de curiosidade, chegavam na porta, e deslizam o pano que separava o quarto do corredor, mas nada entendiam, por que a conversa era em outro plano.


Minha mãe, entrou de repente, e novamente tentou me puxar, o que não me deixei tocar.


E, permaneci em oração, por que tem batalhas que não são nossas!


Assim como foram as de Cristo. 


E para elas só o enfrentamento pode desafiar. qualquer que sejam as forças opostas ali presentes,de repente após outra golfada de sangue,ele desfaleceu, num sono, que julguei fosse o derradeiro. 

Mas que depressa, limpei-o, enxuguei seu rosto de suor com odor fétido, mais forte do que as ervas que tinha pego!

E, percebi, que a Nita, agora estava normal. 


E, calmamente, ela disse, podemos sair, ele repousa apenas. Amanhã deverá se levantar.

Fomos num quartinho ao lado, e percebi uma bolsa que ela havia deixado do lado de dentro da sala antes de entrar, e que nos deram as senhoras da casa, ao abrir vi que tinham nossas roupas, minha e dela!


Após nos limparmos, com uma bacia cheia de água que ela pedira, trocamos de roupa, e embrulhamos a anterior. Ou seja, ela sabia muito bem ao que viera!


Numa troca de olhares com as pessoas de fora, ela disse: Ele não vai morrer ainda!! apenas repousa, e preparem um prato de sopa com músculos e mandioca, que ele vai acordar com muita fome. 


A mãe dissera que havia 10 dias que travara a boca, e mau conseguiam colocar líquidos pra dentro de sua boca.


Os médicos disseram que era trismo - ou tétano, e que podiam preparar a caixa.

Juanita falou, mas ele não tem nenhum ferimento, ou teve algum corte com enxada? Ao que balançaram a cabeça,negativamente!!


É como eu pensei disse ela, ele estava encomendado!!!

Já estava a escurecer,nos despedimos, para não pegar a estrada com chuva, ou noite fechada.


Minha mãe, muda estava, muda ficou!


O assunto não foi comentado na viagem de volta! E apenas a paisagem miravamos deslumbrados, agora que estava tudo mais calmo. Coisas que nem havíamos percebido ao passarmos, antes.


Conclusão: "Existem mais coisas entre os céus e a terra, do que supõe nossa vã filosofia!!"


                                                               besos...














s.


2 comentários:


Obrigada pela presença, caso queira deixe seu comentário.

Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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