segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

L.F. Pondé - O desafio hoje é pensar sem utopias. Um cidadão responsável neste mundo afirma sua integridade pagando a conta do Visa em dia. Um certo mal-estar com relação à sociedade de consumo é necessário se você quiser manter sua saúde mental em dia. Parte II


Uma vida para doentes mentais

DE SÃO PAULO



Vivemos uma vida para doentes mentais. 

A Romênia já nos deu Cioran, Eliade, Ionesco. Agora nos dá Matéi Visniec, e a É Realizações traduziu várias de suas peças.
Entre elas, "A História do Comunismo Contada aos Doentes Mentais" nos dá a conhecer um medíocre escritor, convidado a contar a história do comunismo a doentes mentais dias antes da morte de Stálin.


Os romenos são grandes "filósofos do mal". Tenho um profundo preconceito por quem acha que não existe o mal. Este tipo de antropólogo de boutique que confunde relativismo cultural com discussão moral séria.


Segundo o que nos dizia Cioran, na Romênia, ninguém se dava ao luxo de suspeitar da existência do mal, porque o fatalismo pessimista daquele povo era por demais "empírico": séculos de violência.


Segundo o autor, o mal em sistemas totalitários é fácil de ser identificado: a perda da liberdade, da privacidade, do horizonte, enfim, do tônus da vontade. Mas, na França em que vive desde seu exílio em 1987, o mal não é tão fácil de ser identificado. Para Visniec, aquilo que as ditaduras marxistas não conseguiram realizar plenamente, a formatação do homem para a condição de gado ou de doente mental, a "liberdade de consumo" das democracias ocidentais estão conseguindo. Este é o "nosso mal".


Como o leitor bem sabe, suspeito de toda crítica à sociedade de mercado quando feita por alguém que supõe conhecer uma melhor forma de vida e que afirma que esta melhor forma passa pelas ideias idiotas que alimenta em sua cabecinha intelectualmente provinciana e autoritária. Mas este não é o caso de Visniec.


Tendo vivido sob o regime totalitário marxista, ele carrega a marca de quem conheceu o mal na intimidade que só a forma banal do cotidiano traz.


Para as sociedade ocidentais funcionarem, temos que comprar. Para comprar no nível que a máquina econômica nos pede, temos que, mais do que comprar, consumir sempre e cada vez mais. Portanto, ao consumirmos "livremente" e com alegria, somos o gado pacificado que os regimes marxistas tentaram criar e não conseguiram. 

Um cidadão responsável neste mundo afirma sua integridade pagando a conta do Visa em dia.


Só alguém sem alma pode ver um shopping center no fim de semana e não ter vontade de vomitar. 

Um certo mal-estar com relação à sociedade de consumo é necessário se você quiser manter sua saúde mental em dia. A sociedade que consome sem um mínimo de mal-estar é uma sociedade de doentes mentais.


O problema é que não conhecemos nenhuma experiência histórica real na qual a liberdade política tenha sobrevivido ao extermínio da liberdade de iniciativa econômica.
Por outro lado, a vida humana é precária e tudo tem um custo real. Não conhecemos nenhuma forma de criar ciência, conforto, técnica, direitos humanos sem o uso de dinheiro. E assim voltamos ao consumo: o consumo garante a sobrevivência da economia no nível exigido pelo nosso desejo de conforto, ciência, técnica, direitos humanos.


Visniec se choca com uma Europa que tudo que parece querer é comprar. O Leste Europeu, quando ficou livre, gritou "Prada!". A liberdade conquistada foi para ir ao shopping no fim de semana e comprar toda essa gama de lixo que se compra, com a "boca cheia de dentes esperando a morte chegar...".


Nenhum intelectual parece entender que somos banais como doentes mentais.
Visniec pensa que temos que buscar novas utopias. O interessante é lembrar que a felicidade representada pelo "sou livre para comprar" também foi uma utopia na Europa. O euro é o nome dessa utopia.


Melhor abrirmos mão da ideia de utopia. Quanto mais rápido desistirmos de um mundo melhor, mais rápido perceberemos que a consciência, de fato, é um ônus.


E também, como dizia Yeats, "os melhores não têm convicções enquanto que os piores estão sempre cheios de intensidade passional". 

O desafio hoje é pensar sem utopias.




Parece que, quanto mais procuramos ser nós mesmos, mas nos confrontamos com pessoas que tem  idéias formidáveis, à respeito dos homens, da sociedade, e de seu modo de viver...
Ninguém consegue na era da Globalização, manter seu pensamento da mesma forma todos os dias. 
Somos complexos e mutantes, e necessitamos desse aspecto para percebermos que a vida é infinitamente maior do que supomos...Um dia sempre será repleto de infinitudes. 

   Abçs ...

Um comentário:

  1. Acho que eu ia discutir muito com ele, tem muitos pontos que eu acho discutível. Lembro de uma pessoa que quando alguém levava uma crítica sobre alguma coisa, tinha que levar uma sugestão para resolver o problema e defender os pontos.
    Beijos...Amada!!

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Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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Que lugar é esse ? One club of The chess... greast ...